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Pais em Tempos de Crises: A solidão na velhice

Mário Freire - 19/01/2017 - 11:30

Veio ter ao meu correio electrónico, enviado por um amigo, uma fotografia do fotógrafo Jorge Vieira em que se vê numa sala, sozinha, uma senhora idosa, sentada a uma pequena mesa, junto à parede, fazendo um brinde. No lado oposto a ela encontra-se uma cadeira vazia. No entanto, projectada nessa parede aparece a sombra de alguém que estaria em frente, talvez do companheiro que partiu, correspondendo à saudação.
É uma imagem forte da solidão, aquele sentimento em que uma pessoa se sente só, angustiada, isolada, cheia de um vazio imenso, associado, quantas vezes, a uma profunda saudade de um tempo que já não volta. Ora, a solidão, segundo um artigo de Luciano Manicardi, no “L’Osservatore Romano” de 25 de Agosto passado, decorre de um sentimento de “desgosto, de tédio de viver, devido à real ou presumida ausência de estímulos interessantes, à repetição monótona dos mesmos acontecimentos, à ausência de motivações interiores, ao não gosto nas relações.” Todavia, esse sentimento de estar só, que a solidão nos trás, pode, segundo este autor, não ser necessariamente mau; pelo contrário, ele coloca-nos diante de uma dimensão interior que é susceptível de levar às grandes perguntas: “Porquê viver? Porquê agir? Quem sou? Que sentido tem o meu ser?”
Não excluindo que a solidão na velhice possa tentar responder a tais questões fundamentais da nossa existência, ela, no entanto, assume outros contornos, talvez mais inquietantes e menos filosóficos. A diminuição das forças e da saúde, com a consequente diminuição das expectativas de alteração da situação em que se vive; a perda do cônjuge ou companheiro/a de toda uma vida; a perda de amigos próximos; o abandono familiar ou o débil apoio da família são factores susceptíveis de contribuir para o aparecimento da solidão. 
Os centros de dia e os lares podem ser uma resposta para contrariar o aparecimento daquele sentimento mas este nem sempre se evita com pessoas à volta, por melhor que sejam as técnicas de animação que nessas instituições possam existir. O apoio da família, dos amigos e, sendo possível, a participação em actividades de carácter social e comunitário parecem ser os elementos que melhor contribuem para a diminuição desse sentimento que corrói o físico e a alma e que é a solidão na velhice. 

freiremr98@gmail.com

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