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Pais em tempos de crises: A violência filial

Mário Freire - 21/07/2016 - 14:28

O tema não é fácil de tratar pela sua incomodidade. Ele, no entanto, é, crescentemente, uma realidade dos nossos tempos e tentar escondê-la serve para a tornar, ainda, maior. Recorro ao livro de Javier Urra, “O Pequeno Ditador Cresceu – Pais e Filhos em Conflito”, publicado pela editora “Esfera dos Livros”, em Fevereiro deste ano. O autor é psicólogo, professor na Universidade Complutense de Madrid e serve-se da sua experiência de terapeuta e de Provedor de Menores em Espanha para relatar múltiplos casos de violência de filhos contra os pais. O fenómeno que, até há cerca de uma década, ocorria acidentalmente, cresceu de forma agigantada nos últimos anos, de tal modo que Urra o descreve como “uma pandemia de violência filial”. Assim, citando os dados do Memorando da Comissão Geral do Estado Espanhol, apresentado em 2011, refere que se em 2007 se registaram 2683 denúncias de maus-tratos de filhos a pais, em 2009 essas denúncias subiram para 5201. Diz, ainda, que “25% dos casos dos tribunais de Menores são já por maus-tratos de filhos a pais.” Em Portugal, a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) é a entidade que mais dados tem fornecido sobre este problema social. Assim, num estudo divulgado em Outubro de 2014, durante os anos de 2004 a 2012, houve cerca de 4000 pais maltratados pelos filhos, em ambiente doméstico, sendo o número de mulheres muito superior (81%) ao dos homens. Refira-se, ainda, quanto de penoso deve ser um pai ou uma mãe denunciarem um filho ou filha por maus-tratos; muita desta violência fica, pois, escondida dentro de portas e, por isso, as estatísticas são sempre inferiores aos casos que ocorrem. Urra identifica algumas causas para estes distúrbios familiares. Uma delas é a crise económica; a falta de dinheiro origina que muitos filhos não tenham certos caprichos de que podiam usufruir. Por outro lado, cada vez mais os filhos vão crescendo sem regras. Os pais parecem ter medo de dizer não a muitas das suas pretensões injustificadas. Além disso, o ambiente familiar disfuncional, de permanente conflitualidade, não favorece a existência de uma autoridade dos pais. As terapias para esta pandemia, segundo a expressão de Urra, não se localizam nos filhos mas, principalmente, no ambiente familiar que os rodeia. Aprender a ser pais é, pois, um desafio que se coloca na sociedade contemporânea. Será que haverá muitas instituições que queiram ensinar e pais que desejem aprender?

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