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Pais em tempos de crises: O grande teste da grande idade

Mário Freire - 10/08/2017 - 9:55

São cada vez em maior número as pessoas que atingem e ultrapassam os 80 anos de idade, a chamada grande idade. O aumento da esperança de vida justifica que tal aconteça a uma parte crescentemente significativa da população. E, simultaneamente, são em maior número os que chegam à grande idade num estado de saúde relativamente bom.
Ora, num estudo de Vincent Caradec (“Sociologia da velhice e do envelhecimento”, Armand Colin, Paris, 2015) diz-se que esta grande idade é um terreno cheio de contrastes: enquanto que uns, pelas dependências que apresentam, estão constrangidos a viver em lares, outros permanecem até uma idade avançada sem grandes desconfortos e outros, ainda, vão conseguindo lidar com as suas dificuldades. Uma coisa é certa: as pessoas idosas estão cada vez mais presentes nos espaços públicos, frequentando-os e neles intervindo. Um exemplo desta intervenção é a Associação de Amigos da Grande Idade que promove congressos, cursos de pós-graduação…, provando que há novas maneiras de viver a velhice.
Ora, de uma maneira mais individual e escondida, muitas pessoas de grande idade aprendem a fazer face às dificuldades crescentes com que são confrontadas, tais como a doença, o desaparecimento dos seus amigos, o “idadismo”, isto é, as atitudes de discriminação e depreciação fundadas na idade. Tudo isto constitui o teste da grande idade, segundo Caradec. Este teste, que é mais ou menos marcado pelo caminho já percorrido e pelos recursos que se possuem, pode traduzir-se em a pessoa idosa, segundo aquele autor, “continuar a conservar as actividades que lhe são significativas, a manter a sua autonomia nas decisões, a preservar o sentimento do seu próprio valor, a não se sentir um estranho no mundo. É confrontando-se com os desafios e inventando em cada dia soluções que se opera a conquista da grande idade.” 
Não faltam exemplos, nacionais e estrangeiros, de pessoas que, com mais de 80 anos, nos deram e continuam a dar lições nos vários domínios da actividade humana (cultural, política...), sendo de grande valia o seu contributo à sociedade. 
A maioria dos idosos, porém, não se situará neste patamar, seja físico, seja intelectual. A todos eles, contudo, deveriam ser-lhes dadas condições de dignidade e oportunidades, mesmo no sofrimento, de mostrarem que a vida merece ser vivida até ao fim. Se assim fosse, seria também uma lição que eles estariam a dar a todos os que estivessem à sua volta. Seria o seu último grande teste!

freiremr98@gmail.com

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