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Pais em tempos de crises: Que tipos de bens se pretendem destruir?

Mário Freire - 03/05/2018 - 10:11

Américo Pereira, filósofo e professor da Universidade Católica Portuguesa, num texto publicado na newsletter da Pastoral da Cultura, em Novembro passado, dizia, servindo-se de Platão, filósofo grego, a propósito da guerra: “a origem da guerra reside no desejo de posse ilimitada de riquezas, de bens, por oposição ao desejo dos bens que são próprios a cada ser humano e a todos os seres humanos…”. E, mais adiante, refere que “todo o acto de guerra acontece quando um ser humano, qualquer, retira a um outro ser humano, qualquer, um bem que lhe é próprio.”
Vejamos, por exemplo, o que, infelizmente, está sendo notícia, quase todos os dias: a violência doméstica. Quando um homem agride uma mulher, por que o faz? Ele, que tem maior força física, serve-se dela para roubar à mulher um bem que não é transaccionável: a sua dignidade e, por vezes, até, a sua vida. E essa dignidade e essa vida que foram roubadas, que faz ele, homem, com elas?
Outro exemplo: uma mulher levanta uma calúnia a respeito de um homem, isto é, roubou-lhe o seu bom nome. Que faz esta mulher com aquilo que foi roubado a este homem?
Em ambos os casos, as pessoas que roubaram, seja a vida, a dignidade, o bom nome, apropriaram-se de bens imateriais. Restituí-los, por vezes, torna-se tarefa muito difícil ou, mesmo, impossível. Essas pessoas, pelo facto de terem cometido tais actos e nada tendo beneficiado com eles, ultrapassaram o simples parasitismo, isto é, a circunstância de se aproveitar de algo, prejudicando, em proveito próprio. 
De outro modo pode ser visto alguém apropriar-se de um objecto de que não necessitava. Ora, esse bem, supérfluo para quem dele se apropriou, pode ser necessário para outros. Num acto de violência estão sempre em jogo bens, sejam eles de natureza material ou imaterial. Que tipo de bens se pretendem, então, destruir quando se usa da violência? Eis questões que os pais poderiam fazer a si próprios quando usam a violência de um para com o outro, muito especialmente na frente dos filhos, ou que poderiam colocar aos próprios filhos, quando estes cometem violência, seja em casa ou fora dela.   
freiremr98@gmail.com
                                                         

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