Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Pensamentos mágicos: No reino da bruxaria

Florentino Beirão - 09/03/2017 - 10:58

Alguém que viesse doutro planeta e aterrasse no nosso país, após tomar conhecimento dos últimos acontecimentos, facilmente concluiria que tinha aterrado num mundo mágico, onde imperava a bruxaria, em vários setores da vida pública. Se não vejamos.
Uma grávida, dirigiu-se a um num hospital público, na Guarda, como sinais de parto eminente, pelo que foi chamado o médico de serviço. Passado hora e meia, lá apareceu, agora, só para assinar o óbito do bebé. Pelos vistos, não chegando a horas, tudo se precipitou, dando como resultado, a morte da criança. Os pais, muito revoltados, acionaram um inquérito ao que se havia passado, para tentarem saber as causas que explicavam aquele trágico desfecho. Quando se ia a instaurar o processo de averiguações, para se apurarem as responsabilidades, chegou-se à conclusão que os respetivos documentos, por artes mágicas, haviam desaparecido. Certamente, as bruxas da  Guarda meteram-se no assunto e terão feito das suas, fazendo voar a documentação.
Virando-nos para a banca, ficámos a saber que a Autoridade Tributária, entre 2011 e 2014, terá supostamente fechado os olhos, não dando conta da saída de capitais para paraísos fiscais, na ordem dos dez mil milhões de euros. Não parece aceitável que venha agora a avançar o então ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, tentando lançar poeira nos olhos, pela não divulgação estatística destas operações.
Embora já tenha assumido as responsabilidades políticas por esta grave omissão, o povo jamais a compreenderá, sabendo que, entretanto, naqueles fatídicos anos da troika, estava a ser sujeito a grandes sacrifícios fiscais a fim de se evitar a bancarrota. O pobre a pagar os seus pesadíssimos impostos, enquanto o grupo dos mais ricos, andava a caminho dos “offshores”, gozando de facilidades fiscais. Uma magia que faz desaparecer dinheiro dos bolsos dos contribuintes mais débeis, surgindo depois avultadas verbas nas contas dos mais poderosos. A exploração miserável de muitos, em proveito de alguns.
Para um país que tem uma crónica falta de capitais próprios, é pesaroso vê-los voar na vassoura das bruxas, perdendo-se o seu rasto. Como sempre, como por magia, o nome das empresas que nos vão descapitalizando, não aparecem à luz do dia, encobertas pelo poder político, subordinado tantas vezes ao económico. Esta inversão de papéis tem sido um dos cancros da nossa débil e tantas vezes, corrupta democracia.
Depois de tudo isto, não faltarão comissões e mais comissões de inquérito, para apurar a verdade dos factos. Também como por magia, as suas conclusões são quase sempre inconclusivas. Mas os casos não se ficam por aqui.
Na Caixa Geral de Depósitos, a “conversata” dos SMS, a ocupar a espuma dos dias, há cerca de dois meses, promete continuar, sem fim à vista. Em vez de se indagar a quem foram emprestadas avultosas verbas que escavaram o seu buraco e para que serve a CGD serve, anda-se à procura duns SMS que pouco adiantarão para a resolução do problema. Julgo que o povo já percebeu o essencial.
Novamente, a falta de transparência, a pós-verdade, as perceções de cada um, tentarão como por magia, explicar a contente de todos, o que se terá passado na CGD. Desde que paguemos, com língua de palmo as nossas pesadas dívidas, a tempo e horas aos nossos credores em Bruxelas, tudo se passará no melhor dos mundos, para os burocratas da UE.
Fartos estão eles de saber que as organizações europeias e internacionais não têm pejo em fechar os olhos ao combate à evasão fiscal e ao branqueamento de capitais. E, vontade de emenda, é atitude que não se vislumbra neste mundo de magia onde o dinheiro se eclipsa, aparecendo em incontrolados “offshores”, espalhados por esse mundo fora.
florentinobeirao@hotmail.com

 

COMENTÁRIOS