Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Breve história de uma economia

Luís Beato Nunes - 25/05/2017 - 10:50

Esta segunda-feira, a Comissão Europeia recomendou a saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo (PDE) aplicado ao país desde 2009, não deixando de emitir algumas recomendações específicas ao país, após análise do programa de estabilidade apresentado pelo governo português.
Ainda nas suas mais recentes projeções económicas, a Comissão Europeia estima que o défice orçamental português, que em 2016 se fixou nos 2% do Produto Interno Bruto (PIB), continue a descer para 1,8% este ano e para 1,6% em 2018.
Reforçando o excelente ambiente económico que parece viver-se em Portugal, o Presidente da República falava a semana passada sobre a possibilidade de o país conseguir este ano um crescimento económico à volta de 3,2% e um défice de 1,4%.
Apesar das notícias animadoras, e como escrevi no último artigo, o Pacto de Estabilidade da Zona Euro continuará a pesar nas contas portuguesas por causa do seu enorme rácio da dívida pública, o segundo maior da União Económica e Monetária, e que deve ser reduzido para níveis sustentáveis nas próximas décadas.
Segundo um estudo divulgado durante a semana passada pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP), o programa de estabilidade do governo não só é omisso quanto a medidas específicas, como refere que a consolidação orçamental está alavancada na retoma da economia portuguesa.
Por exemplo, o estudo do CFP refere que o governo “não especifica” como é que vai fazer mais de 80% dos cortes a que se propõe na despesa, uma incógnita superior a 1,3 mil milhões de euros. 
Quanto ao crescimento económico, este é obviamente uma excelente notícia, mas é igualmente resultado de um novo ciclo económico que pouco deve a reformas estruturais ou decisões políticas. 
Desde 1985 que a economia portuguesa vive de impulsos dos fundos comunitários, navegando ao sabor de ciclos económicos de 5 a 6 anos sem conseguir deixar de ser uma economia periférica no seio da UE, apesar das suas condições geopolíticas para se afirmar como uma das economias mais relevantes do Atlântico Norte. 
Enquanto metade das exportações nacionais dependerem de uma dúzia de unidades fabris, enquanto a iniciativa privada depender da capacidade de investimento de algumas dezenas de famílias, enquanto o Estado não melhorar a eficiência dos serviços públicos e enquanto o tecido empresarial permanecer descapitalizado, o país continuará na periferia da Europa.  
É fundamental atrair investimentos que promovam um desenvolvimento regional sustentável, assim como é importante permitir que o tecido empresarial nacional ganhe competitividade e consiga exportar para novos mercados, não se esgotando na procura interna.
É imperativo reduzir as assimetrias entre o Litoral e o Interior, de modo a combater a evidente desertificação de vastas áreas do território nacional, sendo igualmente relevante que o país não abandone a vanguarda da investigação dos oceanos e dos recursos marítimos, dada a nossa vasta Zona Económica Exclusiva.
Em suma, apenas reformas consistentes permitirão que a economia portuguesa seja mais competitiva e que o crescimento não dependa somente dos fundos da UE, onde Portugal não pode continuar a ser uma economia periférica. Se estas reformas não forem pensadas e implementadas temo que daqui a 6 anos estejamos a atravessar nova recessão económica.
luis.beato.nunes@gmail.com

 

COMENTÁRIOS