Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Repetidos até à exaustão, 760: o número fatídico

Abílio de Jesus Chaves - 23/02/2017 - 10:58

Absurdo por excesso, o número 760 é repetido pelos locutores dos três canais de televisão portugueses até à exaustão com a radiante promessa de sair uma determinada quantia em dinheiro, ou por vezes um automóvel aos que dele fazem uso nas suas chamadas para os referidos canais.

Partilhar:

Absurdo por excesso, o número 760 é repetido pelos locutores dos três canais de televisão portugueses até à exaustão com a radiante promessa de sair uma determinada quantia em dinheiro, ou por vezes um automóvel aos que dele fazem uso nas suas chamadas para os referidos canais. Os locutores de serviço, numa exaustiva lengalenga e num árduo exercício de propaganda, conseguem tornar exequível, um acto manifestamente prejudicial aos interesses da população. 
Por vezes, fazem perguntas e nem sequer deixam acabar as respostas, tal o frenesim que os anima na mensagem do ardil montado. É uma competição feroz entre os vários canais televisivos para ver o que consegue angariar mais dinheiro. A população portuguesa que mais cai neste logro, pela idade dos premiados, somos obrigados a acreditar que é a mais idosa, até por ser esta a mais visada em muitos outros aspectos. É a que está em casa a ver televisão e também a mais susceptível de ser fustigada sem se aperceber de que está a ser enganada dada a sua suposta baixa escolaridade. 
Alguns locutores vão ao ponto de dizer onde é que as pessoas devem gastar o dinheiro e aconselham a telefonar quanto mais vezes melhor, por ter mais hipóteses de lhe calhar o prémio. Como o sistema resulta, todo o tempo é pouco, por isso, continua durante a semana: as cartomantes logo pela manhã; as secas durante o dia com prémios de mil ou dois mil euros, sem esquecer os vendedores da banha da cobra, que daqui a pouco, já não precisamos de médicos nem farmacêuticos. Isto é patético, numa sociedade carente de recursos económicos, mas a qual, na ardência da sua esperança, idealiza um sonho milagreiro que jamais lhe acontecerá por só calhar a uma   pessoa  entre  centenas de milhar, cai como patos no engodo. 
Para isso, ainda tem que atender a chamada. É o método usado para obrigar as pessoas a estarem sintonizadas com o respetivo canal. Os canais televisivos privados, em condições mais desfavoráveis que o canal público dão muito melhores prémios. Outro aspeto assaz curioso, são os artistas convidados para abrilhantar as festas, em vez de se  dedicarem  de alma e coração nas suas exibições para agradar, qual quê, repetem até à exaustão a mesma canção de sempre. Quando lhes é perguntado por onde têm andado a atuar, andam todos pelo estrangeiro, o que os obriga a ter um  razoável  reportório?  
Voltando ao 760, é verdade que ninguém é obrigado a nada, só telefona quem quer, e só vê televisão quem gosta, até há muitos outros canais para ver, é só sintonizar. Também tem que se dizer, os locutores de serviço, fazem o que as suas administrações mandam. É claro que ninguém considera o fator económico e cultural da população, donde saem por semana muitos milhões de euros. Qual lei da selva a fundar-se numa problemática própria do mais forte e sabido. Lampejos de esperança que isto acabe depressa, não há, pois, os recetores parece que se encontram envoltos por uma cortina de trevas e desafortunadamente atolados no sistema como que por artes mágicas. 
Os beneficiários de certeza que não o acabam, dadas as benesses que lhes acarreta: empresas de telemóveis, canais televisivos e governo. O Zé Povinho, sempre ele, magnate das ilusões, das emigrações e estruturas económicas tradicionais, fica entorpecido, resignado e adormecido.                       
Abílio de Jesus Chaves         

COMENTÁRIOS