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Retratos: Gralhas

JC - 16/08/2018 - 10:15

Jeremias, presidente da Brigada do Reumático, tirou o último fim-de-semana para visitar uns amigos que tinha ali para os lados do norte da Nação Lusitana, participando ativamente na tradicional festa da sardinha e das bifanas, onde todo o povo come e bebe à borla. 
–“Aquilo é uma alegria. Depois da procissão, vem a degustação”, disse Jeremias, que aproveitou a ocasião para tentar provar uma das iguarias mais requisitadas do evento, com direito a cartaz feito a computador, afixado atrás do balcão. 
Rezava o mostrador uma frase apelativa: “«à» «pecinhos» com «cuentros» e «Cacomelos» grelhados”. Jeremias contava a sua experiência ao camarada Godofredo e ao companheiro Evaristo, secretário geral e presidente do conselho fiscal, respetivamente, na segunda-feira, na esplanada do café Beiral, onde os caracóis estão sempre a sair.
-“Assim que me cheguei ao balcão perguntei o que é que era aquilo dos «pecinhos» e para onde os ditos deveriam ir, uma vez que o A perdeu o H e ganhou um novo acento. Perguntei ainda que sabor teria aquela coisa de «cacomelos». A senhora lá me explicou que os «pecinhos» eram aquela parte final das patas dos suínos e que eram muito bons, sobretudo com as ditas ervas que, no cartaz, perderam o O e ganharam o U. Disse-me ainda que o «Cacomelos» eram uma espécie de tortulhos, recordou Jeremias.
-“Então e provaste os ditos?”, perguntou Godofredo, que de quando em vez assinala algumas arreliadoras gralhas em cartazes , textos, publicidade e nos rodapés das televisões. 
–“O problema é que já não há revisores. Antigamente havia, nas artes gráficas, e na imprensa, essa figura. Hoje, tudo é permitido, e quando há erros, a desculpa é o novo acordo ortográfico. Ainda me recordo daquela publicidade de Natal, em que uma autarquia em vez de festas, desejou umas boas bestas a todos os seus concidadãos”, acrescentou Evaristo.
-“Mas ali a questão não foi essa”, explicou Jeremias: -“quem ditou era delfo, quem o desenhou era surdo, e quem o leu estava há muito tempo longe da mãe pátria. E assim, lá tive que comer os «pecinhos» e os «Cacomelos», acompanhados de uma cervejinha geladinha, levantada mesmo ao pé do cartaz “Há boas e fresquinhas”, esse sim sem qualquer erro ou omissão…

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