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Revisitação do marxismo: Forças e fraquezas de uma doutrina

Florentino Beirão - 01/03/2018 - 8:45

Há bem poucos livros que mudaram a História da Humanidade. De repente, lembro-me da Bíblia, do Alcorão e do Manifesto do Partido Comunista que foi publicado há 170 anos, (21.02.1848), pelo filósofo hegeliano Karl Marx (1819-1883) e o seu amigo F. Engels (1820-1895). Poderemos aproveitar o aniversário deste documento, para fazermos uma breve reflexão sobre o pensamento marxista e perceber de como as suas forças e fraquezas muito contribuíram, ao longo destes anos, para influenciar uma grande parte da história da humanidade. Tanto em aspetos políticos, como económicos e sociais.
Desde há muitos séculos que o ser humano sonha com uma sociedade igualitária, sem explorados nem exploradores. Alguns grupos de pessoas têm sonhado e chegaram mesmo a aproximar-se da concretização desta utopia. Nomeadamente, os primeiros cristãos. Segundo o relato do Ato dos Apóstolos (capII.44-48), “os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as suas necessidades”. Inspirados nestes ideais de vida, na idade-média, surgiriam alguns movimentos religiosos (franciscanos e dominicanos), que tentaram aproximar-se deste ideal de vida, em liberdade, por convicção e opção de vida. Ainda hoje, em todo o mundo, há comunidades religiosas a darem testemunho deste ideal comunitário e fraterno. Mas o que o marxismo quis trazer de novo à humanidade e ao seu desenvolvimento foi a tentativa de provar cientificamente, de como estes ideais podiam ser alcançados. Partindo do princípio de que a humanidade, até hoje, não tinha evoluído, porque sempre houve explorados e exploradores, patrões e assalariados, a mudança deste paradigma não seria possível, universalmente, sem a luta de classes. Dentro desta perspetiva, o referido Manifesto, publicado em plena revolução industrial inglesa, afirmava que “os trabalhadores não têm nada a perder, a não ser as próprias grilhetas, e têm um mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos”! As ideias de igualdade, fraternidade e liberdade, herdadas do iluminismo e da revolução francesa de 1789, surgiam agora repescadas pelos ideais marxistas que sustentavam que as sociedades humanas só progridem, através da luta de classes.
A radicalidade desta doutrina não deixaria de ter eco nos operários de uma grande parte do mundo, que acabaram por se unir em partidos e sindicatos, para fazerem valer os seus direitos, face aos que controlam os meios de produção, o patronato.  Ao carater revolucionário e ateu do marxismo - a matéria explicar-se-ia por si própria - defendendo a propriedade privada - tudo era de todos - se teve muitos adeptos, em todo o mundo, também produziu radicais opositores. As Igrejas e os regimes liberais, bem como os nacionalismos imperialistas, em plena força e desenvolvimento por toda a Europa no séc. XIX, decretaram-lhe guerra de morte, em todas as frentes.
Recordemos que os ideais do comunismo foram implantadas por Lenine em 1917, com a mortífera revolução soviética, seguindo-se o cruel estalinismo, de prisões e assassinatos em massa. Os princípios dos fundadores, não sendo respeitados na Rússia, atraiçoaram alguns dos primitivos ideais comunistas. Em vez da liberdade, implantou-se a ditadura do proletariado e a guerra aos crentes. Em vez de fraternidade, a divisão entre os que pertenciam ao partido e os que se lhe opunham, à custa do sacrifício da própria vida. O caso do assassinato dos Romanoffs e dos nobres, bem como do clero e de muitos religiosos dos mosteiros ortodoxos, ficaram inscritos com letras de sangue. Quanto à igualdade, aos antigos senhores latifundiários, sucederia uma casta, onde se incluíam os chefes do partido soviético, enquanto a massa dos camponeses, continuaria a ser explorada, labutando pela sua sobrevivência e para alimentar as necessidades do Estado, nomeadamente, na guerra civil, após a morte de Lenine.
Contudo, temos de admitir que os estudos que Marx nos deixaram, nomeadamente na sua genial obra, o “Capital” (1867 - 1894), onde tentou explicar a sociedade e a história, cientificamente. Esta obra muito têm contribuído, ao longo destes longos anos, para explicar e compreender melhor os fenómenos económicos, políticos e sociais, bem como o evoluir das características do capitalismo, hoje, em plena globalização.
florentinobeirao@hotmail.com

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