Nasci em Salvaterra do Extremo há mais de sessenta anos, na casa dos meus avós maternos situada na rua da Calçada – casa de família João Lito, embora desde muito novo, ainda só com meses, tenha ido morar para a freguesia de Benfica, em Lisboa. Sempre que os estudos me permitiram foi em Salvaterra que completei a minha formação daquilo que sou hoje, pois foi aí que aprendi a nadar, montar a cavalo, andar de bicicleta, ir aos ninhos, roubar fruta, descer poços, subir aos eucaliptos mais altos, escalar o rochedo onde se situa o castelo Peñafiel, etc., posso afirmar que afinal não sai de Salvaterra pois o meu coração foi e será sempre salvaterriano. Há anos atrás quando chegava à “volta da Estrada” o meu coração batia de alegria, agora cada vez que chego fico com um aperto de tristeza, pois o que vejo é uma aldeia quase deserta, de ruas sem gente e os habitantes que ainda lá se mantêm, a larga maioria, tem mais de setenta anos. Sem responsabilidade política ou outra qualquer, mas como cidadão em pleno gozo dos meus direitos cívicos, aproveito estas linhas para expressar o que me vai na alma e denunciar a invasão silenciosa que infelizmente tomou conta de Salvaterra do Extremo, a desertificação e interioridade.
APRESENTAÇÃO A vila histórica de Salvaterra está localizada nos confins orientais do concelho de Idanha-a-Nova e as suas origens como povoação remontam do período paleolítico. Mas foi nos inícios do século XIII, mais propriamente em 3 de Maio de 1229 que recebeu carta foral de Sancho II. Topograficamente, esta vila está localizada no alto de um cabeço de 386 metros de altitude, que à vista desarmada apresenta a configuração de uma vírgula, cortada a norte e a nascente, quase a pique, por abruptos rochedos inacessíveis que abraçam o rio Erges, que aí corre em profunda e rasgada garganta. Fronteiro à sua posição geográfica lá se encontra o castelo Peñafiel, que embora em ruínas, se ergue imponente em Espanha na margem esquerda do Erges. Esta vila, cresceu desde essa data, extramuros, de costas voltadas para Leão, Castela e Espanha sucessivamente, descendo pela encosta poente da elevação onde o seu castelo medieval foi erigido. Embora Salvaterra do Extremo se encontre num estado avançado de desertificação humana apresenta-se como uma povoação moderna, de ruas largas e de casario em grande parte renovado. O seu património de biodiversidade ainda permanece em estado selvagem, que harmoniosamente coexiste com a protegida reserva das comunidades de águia bonelli e real, abutres fouveiros e Egiptos, mamíferos como a lontra, gato bravo e o ginete.
QUE FUTURO? Não sou um predestinado nem tenho a leviandade de apresentar soluções mágica, mas tomei de há muito consciência de que um dos caminhos a seguir, a curto prazo, para atenuar a crescente desertificação e interioridade que afecta Salvaterra do Extremo será o de construir os alicerces de uma defesa de posição, através no investimento público em obras de recuperação e arranjos, que valorizem os recursos que a natureza nos ofertou, que por acaso para Salvaterra do Extremo foi pródiga. Para tal, Salvaterra do Extremo deverá ter uma voz grossa, na defesa dos seus interesses imediatos, no que concerne à realização de pequenos investimentos que poderão pela sua importância serem uma âncora para a criação de riqueza e postos de trabalho, neste caso particular no Turismo e restauração. Temos que aproveitar inteligentemente o que nos pode ser reservado pelo novo pacote de fundos comunitários - Portugal 2020, que se destina financiar projectos direcionados, por discriminação positiva, para os territórios de baixa densidade e do interior, como o de Salvaterra do Extremo, nomeadamente:
rio Erges A realização desta obra permitirá desenvolver quase de forma permanente, pois esta só seria encerrada no período da nidificação das aves selvagens, percursos de pedestrianismo, de ciclismo BTT, Mountain Bike e de outros desportos radicais que estão em voga, com a vantagem de atrair gentes de Portugal e Espanha a estas paragens;
Açude da Fonte A reconstrução do açude da Fonte da Ribeira e requalificação do moinho que lhe dá apoio permitiria recrear um museu vivo, de como se tratava a moagem da farinha por esse meio. Mas a grande vantagem desta obra seria o de transformar, sem grandes custos financeiros, a paisagem existente através de:
• A retenção significativa de água, num dos poucos rios ainda não poluídos, dando origem a uma pista de aproximadamente 1,3 Km para a prática desportiva do remo ou de canoagem;
• O ressurgimento da Praia fluvial da Fonte da Ribeira, antigamente conhecida por “o Pégo”;
• A requalificação das fontes da Ribeira;
• A visualização e reconhecimento físico do “canhão do Erges”.
herdade da Devesa Esta propriedade pela sua localização merece um pouco de atenção, pois sem grandes investimentos pode tornar-se num espaço lúdico a utilizar pela população, de excelência. A sua topografia e enquadramento paisagístico fornece naturalmente as condições necessárias para nela englobar uma pista pedestre de elevada categoria, por onde se visitaria o património aí existente como pontos de apoio, nomeadamente o chafariz manuelino, a fonte da Devesa, a capela de Nossa senhora da Consolação, o pavilhão do bodo, sem falar nos três poços públicos e a fonte da Devesa nela existentes.
Rota dos Abutres A rota dos abutres é o único percurso registado, implementado e homologado em Salvaterra do Extremo. Após vários anos de utilização sou da opinião que é altura de se propor um novo percurso, que como alternativa seguiria o curso do rio Erges até ao Charco Redondo (uma maravilhosa retenção de água – moinho do ti Zé Moleiro), Apartadura, Chafariz de Ferro, Devesa e seus monumentos, Salvaterra do Extremo. Desta forma evitava-se o percurso em estrada de asfalto de 800 metros.
“Aqui fica o atrevimento, que outros floresçam”.