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Transparência e cargos públicos

Luís Beato Nunes - 17/05/2018 - 10:44

Nas últimas semanas temos testemunhado, finalmente, uma demarcação política da investigação judicial que abusivamente foi utilizada como circo mediático, entretendo os atores políticos entre entrevistas, declarações e espectáculos circenses de apresentação de fraca literatura.   
Como vários jornalistas observaram, é estranho que tenha demorado tanto tempo para que o PS e o atual primeiro-ministro se tenham demarcado deste triste episódio da democracia portuguesa, tendo alimentado uma campanha de descredibilização da justiça fazendo eco de narrativas com tanto de absurdo como de rebuscado.
O tempo que a espada do ministério público pendeu sobre a cabeça dos suspeitos está longe de ser o ideal e tem que ser corrigido num futuro próximo, mas a mensagem é forte: mais tarde ou mais cedo, todos respondemos perante a justiça por mais “amigos” e “padrinhos” que tenhamos.
Seja na administração central, seja nas autarquias, várias situações que indiciam casos de corrupção têm sido investigadas e os respetivos suspeitos formalmente acusados, devendo refutar os ilícitos que lhes são imputados.
Mas, como é expetável, as mulheres e os homens públicos não respondem apenas perante a lei, mas também e, sobretudo, perante o código de ética e consciência coletiva, sendo incompreensível que deputados, independentemente do seu partido, adotem a chico-espertice como conduta exemplar.
Neste sentido, é lamentável que a resposta das instituições democráticas às recentes notícias sobre os subsídios de viagem dos deputados tenha sido dada por um Presidente da Assembleia da República, cuja leitura dos factos é, no mínimo, uma ofensa à inteligência do comum dos eleitores.
Estas recentes notícias e as justificações descabidas apenas confirmam que há uma geração que pensa ser a guardiã autoproclamada dos valores democráticos, dando ao mesmo tempo um péssimo exemplo de gestão pouco transparente da vida pública.
Ao mesmo tempo que o jornalismo sério faz o seu trabalho de divulgar esta utilização questionável de subsídios públicos, os cidadãos atentos devem fazer ouvir as suas dúvidas e preocupações.
A defesa dos valores democráticos não é patente de um grupo privilegiado que se alimenta dos recursos coletivos do país, devendo ser a preocupação quotidiana de todos os eleitores, os quais devem ter sempre o poder de fazer ouvir a sua voz.
A primeira geração de políticos democraticamente eleitos começa agora a reformar-se, deixando o seu contributo para a nossa história coletiva. Contudo, a nova geração deve aprender a não enveredar pela mesma falta de transparência descarada, aperfeiçoando esta nossa democracia cada vez mais madura e exigente.
Ao contrário do que possam pensar, estas mulheres e homens servem uma vontade popular expressa em actos eleitorais e não são mais do que o veículo para a execução das propostas submetidas a votação.
Apesar de não serem heróis, são os ombros destas mulheres e destes homens que carregam a responsabilidade de um futuro melhor para as comunidades que representam, não devendo todas as suas acções ser julgadas pelos seus resultados imediatos.  
Não são empresários em nome individual, não devem representar interesses que não foram sufragados e devem encarar a sua actividade como uma missão ao serviço da melhoria sustentável das condições de vida colectiva e não uma oportunidade de enriquecerem as suas contas bancárias.
  

 

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