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Leitores: Sim, moramos na mesma cidade

José Pedro de Sousa* - 20/04/2017 - 11:53

Sim, moramos na mesma cidade! Mas há muito que perdi o fascínio pela “Alice no País das Maravilhas” e não me conformo com o transformar a população activa de Castelo Branco em caixas de supermercado e operadores de “Call-Center”.

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Sim, moramos na mesma cidade! Mas há muito que perdi o fascínio pela “Alice no País das Maravilhas” e não me conformo com o transformar a população activa de Castelo Branco em caixas de supermercado e operadores de “Call-Center”.  Tendo em consideração o texto publicado no Jornal “Reconquista” no passado dia 6 de Abril, intitulado “Eu e o Dr. José Pedro Sousa não devemos morar na mesma cidade”, da autoria do Professor José Dias Pires, deputado municipal e Presidente da Assembleia de Freguesia de Castelo Branco, em representação do Partido Socialista, vimos, com todo o respeito devido, dizer o que se segue:
Primeiro, agradecer ao Professor José Dias Pires o ter salientado e de alguma forma corroborado os argumentos por nós utilizados para se chegar à conclusão de que o Partido Socialista de Castelo Branco foi o principal responsável pela asfixia e fragilização do tecido económico da região, como consequência do licenciamento de milhares e milhares de metros quadrados de grandes superfícies comerciais. 
Segundo, esclarecer que nada nos move contra a existência de supermercados e centros comerciais, desde que ajustados à realidade sócio-económica da cidade, concelho e região em que se inserem, o que manifestamente não é o que sucede em Castelo Branco, em que os mesmos proliferam por tudo quanto é periferia da cidade, razão principal para o fenómeno da deslocalização da população para essas mesmas zonas, com a consequente e progressiva degradação física e funcional do centro da cidade.
Terceiro, esclarecer que, como resulta da simples leitura das palavras por nós proferidas, o que colocamos em causa é a existência perfeitamente desajustada e desproporcionada de grandes superfícies comerciais, seja supermercados, hipermercados e centros comerciais. Em caso algum questionamos a zona industrial e as empresas ali instaladas. O nosso lamento é que Castelo Branco não tenha a necessária atractividade para aqui se virem instalar mais empresas e empresários com as mais-valias daí resultantes para a economia da região e para a criação de emprego que tanta falta faz no concelho.
Dito isto, é bom recordar que a política de permitir o licenciamento de tudo o que era grande superfície comercial teve o seu início nos mandatos de Joaquim Morão e é agora prosseguida por Luís Correia, o actual Presidente da Câmara. E, com todo o respeito devido, é precisamente essa falta de visão estratégica que nós criticamos e que os albicastrenses facilmente podem constatar. Como o fizemos na mencionada conferência de imprensa, recordamos aqui as palavras do antigo responsável autárquico socialista que, aquando da apresentação de Castelo Branco 2030 pela equipa de Augusto Mateus, em defesa das grandes superfícies comerciais e em resposta às considerações por nós efectuadas sobre as mesmas, referiu: “a verdade é que pelo Fórum de Castelo Branco já passaram 3 milhões de pessoas”.
E nós dizemos, e repetimos, que são exactamente esses três milhões de pessoas que fizeram e fazem falta no centro da cidade de Castelo Branco, são exactamente esses três milhões de pessoas que fizeram e fazem falta no comércio local e de proximidade, são exactamente esses três milhões de pessoas que fizeram e fazem falta aos produtores locais, tivessem esses três milhões de pessoas gasto um euro que fosse no comércio tradicional e na industria local e seriam três milhões de euros que tinham sido injectados na economia da região, que teriam permitido a sobrevivência de inúmeras empresas e postos de trabalho, e teriam permitido igualmente manter vivo e com especial dinamismo o centro da cidade.
Mais, a rebater o argumento por nós citado de que “por cada posto de trabalho criado numa grande superfície comercial, normalmente de trabalho precário, são quatro os postos de trabalho que se extinguem no comércio tradicional e na indústria local”, diz o distinto Professor José Dias Pires, e cito: “Nos últimos anos o esforço do trabalho dos autarcas albicastrenses do Partido Socialista possibilitou a criação de mais de 2.000 postos de trabalho na cidade. 1200 devido aos famigerados “call centers” … que são hoje um outro (sei que não o melhor) modelo de trabalho e de emprego, e as grandes superfícies perto de 1000.” E conclui o ilustre Professor, “quer isto dizer que se extinguiram 4000 postos de trabalho no comércio tradicional em Castelo Branco!”
Pois face a tais considerações cumpre-nos dizer, e mais uma vez com todo o respeito devido, que o argumento citado não é nosso, trata-se de uma conclusão de um estudo elaborado por investigadores da Universidade Católica Portuguesa, e que se afigura perfeitamente credível se atendermos à realidade de Castelo Branco. Senão vejamos, de acordo com os dados mais recentes do recenseamento eleitoral, o concelho de Castelo Branco, de 2013 para 2017, perdeu 1.353 eleitores. Eleitores, porque residentes, considerando os familiares desses eleitores, são mais. Entre 2009 e 2017, o distrito de Castelo Branco, perdeu 17.872 eleitores. Eleitores, porque residentes, considerando os familiares desses eleitores, são muito mais.
De acordo com o diagnóstico feito ao concelho de Castelo Branco, por Augusto Mateus, em 2012 encontravam-se sediadas em Castelo Branco 5.254 empresas, entre 2008 e 2012 houve uma variação negativa de 11,5%. Os estabelecimentos existentes no concelho de Castelo Branco em 2012 eram 5.713. Entre 2008 e 2012 deu-se uma variação negativa de 10,7%.
O pessoal ao serviço dos estabelecimentos em 2102 era de 16.430 pessoas. Entre 2008 e 2012 também aqui de seu uma variação negativa de 9,8%, seja neste período assistiu-se a uma quebra no número de postos de trabalho nos estabelecimentos localizados no concelho de 9,8%.   
De acordo com o referido diagnóstico elaborado pelo Professor Augusto Mateus, “o concelho de Castelo Branco foi perdendo alguma da sua pujança industrial. Menos empresas a instalarem-se, menor volume de investimento estrangeiro e dificuldades de renovação da mão-de-obra, para concluir “a cidade diminui”. Mais, e ainda de acordo com o referido estudo, também em Castelo Branco se assistiu a um recuo das taxas de emprego entre o perído intercensitário. E tendo por base o desemprego registado nos centros de emprego do IEFP, comprova-se a degradação da capacidade de absorção dos recursos disponíveis no mercado de trabalho de Castelo Branco, entre 2001 e 2013. 
Também no que diz respeito às exportações de bens por concelho, Castelo Branco exportou no ano de 2013 € 47.669.735,00, em 2014 exportou apenas € 39.952.464,00 e em 2015, menos ainda, apenas € 36.871.520,00. Seja, de 2013 para 2015, em apenas dois anos, Castelo Branco passou a exportar menos € 10.798.215, com uma variação negativa de 22,7%.
Por último, não podemos deixar ainda de salientar o relatório da consultora Bloom Consulting, “Portugal City Brand Ranking”, que avalia os Municípios em função de cinco dimensões essenciais: atracção de investimento, atracção de turistas, atracção de talento, aumento de proeminência e aumento de exportações, e que, mais uma vez, em 2017, coloca Castelo Branco fora do Top 25 nacional. Mais, dentre as diversas categorias, Castelo Branco, que é capital de distrito, fica fora do Top 25 nacional para os negócios, Castelo Branco fica fora do Top 25 nacional para visitar, e Castelo Branco ficar fora do Top nacional 25 para viver.
Aliás, Castelo Branco, encontra-se actualmente apenas no 36.º lugar do ranking nacional, sendo de  salientar que em apenas dois anos perdeu 5 lugares no ranking nacional dos Munícipios, e cada vez mais longe do Top 25 nacional. Números, estes, que são mais uma evidência da falência das políticas prosseguidas pelos executivos socialistas que há mais de 20 anos gerem os destinos do Município, e da ausência de visão estratégica que os seus responsáveis têm revelado. 
Chega, pois, de falácias e de tomar os albicastrenses por tontos. E é por isso que nós acusamos o Partido Socialista e os seus responsáveis de serem os principais responsáveis pela asfixia do comércio tradicional e de proximidade existente na cidade e no concelho, bem como pela precarização de inúmeros produtores e artífices locais, e de que querer transformar a população activa em caixas de supermercado e operadores de “Call-Center”.      
E é, pois, também, esta a razão pela qual, nós, no CDS-PP de Castelo Branco, acusamos o Partido Socialista de Castelo Branco e os seus executivos municipais de terem HIPOTECADO o futuro da cidade e do concelho, e de serem os responsáveis pela asfixia da economia da região, e do consequente despovoamento, desertificação e descapitalização do município.    
Por isso digo ao Exmo. Senhor Professor José Dias Pires, com todo o respeito devido, que, sim, moramos na mesma cidade, só que eu há muito que deixei de ficar fascinado pela “Alice no País das Maravilhas“.

* Deputado da Assembleia Municipal de Castelo Branco e candidato do CDS-PP à Câmara Municipal de Castelo Branco

COMENTÁRIOS

luis filipe martins moreira
à muito tempo atrás
Sim, já vai sendo altura de dizer que, em Castelo Branco, o rei vai nu.