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Os ventos sopram

Luís Beato Nunes - 24/11/2016 - 10:03

No âmbito da sua última visita à Europa enquanto presidente dos EUA, Barack Obama e Angela Merkel apresentaram um texto conjunto onde defendem que os Estados Unidos e a Alemanha devem aproveitar a oportunidade para moldar a globalização segundo valores e ideias comuns, argumentando que os dois países devem reforçar a sua cooperação para o bem das empresas, dos cidadãos e de toda a comunidade internacional.
Apesar de Obama ter garantido que “não haverá um regresso a um mundo antes da globalização”, reafirmando o empenho dos EUA no acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e a União Europeia e a luta conjunta contra as alterações climáticas, a verdade é que o futuro hóspede da Casa Branca, Donald Trump, já reafirmou a sua intenção de rever alguns desses acordos.
Com efeito, os discursos tranquilizadores de Barack Obama, não apagam a memória das eleições presidenciais nos EUA, sendo estas mais um indicador de que o Ocidente está exausto da sua rotina política e não hesita em espelhar nas urnas a sua desconfiança crescente para com os políticos de carreira e as suas promessas vazias.
O resultado das eleições Americanas de há quinze dias junta-se ao Brexit no Reino Unido, às políticas nacionalistas em alguns países da Europa de Leste, como na Hungria e na Polónia, ao fortalecimento da Frente Popular de Marine Le Pen em França, ao crescente preconceito da Europa do Norte face à Europa do Sul, o qual por sua vez se reflecte na escolha de alternativas políticas provocadoras do status quo da União Europeia, como sucedeu na Grécia e quase aconteceu em Espanha. Os sinais são evidentes e avolumam-se e de nada servirão os lamentos estridentes pelos resultados eleitorais que continuarão a favorecer posições de reforço dos nacionalismos, limites à imigração, entraves ao comércio livre e o suposto favorecimento dos sistemas de produção nacionais.
Apesar de algumas crises pontuais, a última das quais ainda bem presente, o mundo beneficiou nos últimos 70 anos de um crescimento económico notável e apenas comparável ao período de expansão do comércio internacional de 1870-1914. Este crescimento económico ímpar deveu-se, sobretudo, à redução dos entraves ao comércio internacional e a vários projectos regionais de integração económica, como foi o caso da União Europeia.
Com a expansão do comércio internacional veio também a exposição à diversidade cultural e o eventual respeito pelo trabalho realizado nos vários países do mundo e, sobretudo, a preocupação para que esse trabalho respeitasse um conjunto mínimo de regras internacionais, garantindo a dignidade de cada ser humano.
Contudo, nem todos foram beneficiados com esta globalização, nem sempre justa e nem sempre transparente e a prova está na actual situação política quer nos EUA, quer na União Europeia, onde uma percentagem cada vez mais significativa de eleitores se questiona sobre a sua estabilidade laboral, culpabilizando a internacionalização da economia mundial das últimas décadas.
    Mais do que criticar a vontade dos eleitores expressa nas urnas é fundamental perceber como evitar as injustiças da actual globalização e a crescente dicotomia entre os beneficiados e os marginalizados por este processo. Ou esta reflexão é feita seriamente e com urgência, ou este poderá ser o início de um longo retrocesso na economia mundial.

luis.beato.nunes@gmail.com

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