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Um olhar sobre o interior da Península Ibérica

Luís Beato Nunes - 17/08/2017 - 9:58


A Península Ibérica é o pedaço de terra mais ocidental da Europa Continental, terra de Camões e Cervantes, de heróis como Viriato e El Cid, de imperadores como Trajano e de conquistadores e exploradores, como Hernán Cortés, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Fernão Magalhães ou Américo Vespúcio.
Terra de diversidade e exemplo de multiculturalidade e tolerância, sobretudo até ao século XVI, período após o qual a Inquisição, as disputas internacionais fracassadas e a progressiva decadência dos reinos arrastaram esta Península para a semi-periferia da economia-mundo com centro na Holanda e posteriormente no Reino Unido (Braudel, Fernand: 1979).
A economia ibérica é a terceira maior da UE-27, apenas atrás da Alemanha e da França, encontrando-se o Espanhol e o Português entre as cinco línguas mais faladas do mundo, tendo os mercados combinados dos países falantes de ambos os idiomas uma dimensão pouco inferior ao Mandarim falado na China.
Estas reflexões merecem especial destaque num mês de Agosto em que mais de 80% do território ibérico sofre as consequências perniciosas da ausência prolongada de chuva, afetando a agricultura e a actividade pecuária dos dois países, sobretudo nas explorações do Centro e Sul de Portugal (Alentejo, Ribatejo, Beira Baixa e Beira Alta), na Andaluzia, na Estremadura, em Aragão ou em Castilla y León.
Apesar do peso relativamente baixo das atividades do setor primário na economia ibérica, muitos dos produtos que a diferenciam na economia mundial têm origem neste setor, preservando-se muitos hábitos e receitas ancestrais, cujo valor acrescentando deve ser alavancado na qualidade única da matéria-prima ibérica.
Entre os produtos, destacaria o seu azeite único, os seus queijos de denominação de origem protegida (quase todos portugueses), o seu presunto cobiçado em todo o mundo e os seus vinhos amadurecidos pelo Sol ufano, exibindo-se triunfante nas paisagens salpicadas de azinheiras e sobreiros.
Entre as receitas, destacaria os pinchos, a paella, a sempre saborosa tortilla de patatas, as mil e uma maneiras de cozinhar o bacalhau, as tão populares sardinhas, as tapas espanholas, no início de um convívio, e os doces conventuais portugueses, a terminar, fazem as delícias de qualquer apreciador da boa mesa.
Perante esta diversidade cultural e a riqueza de tradições acumuladas ao longo de gerações, o desafio do braseiro interior da Ibéria deve passar pelos mercados negligenciados das cidades de grande e média dimensão, como Madrid, Córdoba, Salamanca, Valladolid, León, Zaragoza, Badajoz, Cáceres ou Toledo.
Mesmo sendo uma região com grandes amplitudes térmicas, sofrendo igualmente de um progressivo abandono a favor das zonas costeiras, o interior da Península Ibérica continua a ser um mercado relevante, com quase 7 milhões de residentes a mais de 200 km da costa.
É verdade que é pouco mais de 10% do total de habitantes da Península, sendo que quase metade residem em Madrid, mas este número oferece a Concelhos como Castelo Branco, Portalegre, Idanha-a-Nova ou Penamacor uma perspetiva muito diferente do cenário fatalista de despovoamento e desertificação. 
Consolidada uma posição no interior ibérico, é essencial promover o crescimento dos negócios regionais através da escala e influência que os dois países da península ainda têm na economia mundial. 

luis.beato.nunes@gmail.com

COMENTÁRIOS

Luís Beato Nunes
à muito tempo atrás
Onde se lê «Estremadura» deve ler-se Extremadura, uma vez que se trata da comunidade autónoma espanhola e não da província portuguesa.
As minhas desculpas pelo erro.