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A crónica do Tomé: Porque há amigos que não se esquecem

Vitor Tomé - 15/09/2022 - 11:38

A crónica de agosto vai da Costa da Caparica a Proença-a-Nova, com passagem por Cernache do Bonjardim e Castelo Branco. Está cheia de recordações. Ou não fosse uma crónica de férias para quem delas não costuma desfrutar!

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A crónica de agosto vai da Costa da Caparica a Proença-a-Nova, com passagem por Cernache do Bonjardim e Castelo Branco. Está cheia de recordações. Ou não fosse uma crónica de férias para quem delas não costuma desfrutar!

Este agosto, por justo reconhecimento da minha falta de comparência, de muitos anos, às férias, obriguei-me a respeitar desejos da família e conselhos de amigos próximos. Não trabalhei nas férias! Parece fácil! Mas não é! Há dias dizia eu ao Miguel Crespo que estar de férias deprime: “Se tens tanto trabalho por fazer, como consegues estar sem fazer nada?”.
Valeram os que amo, sejam de sangue ou os que nem de sangue precisam de ser, para superar a inevitável depressão por manifesta ausência laboral. E valeram ainda as recordações de quem começa a estar entradote. Já são 53 dias 31 de agosto. É muito! Mas não vamos tão longe. Saltemos aos meus 22 anos para recordar.
Corria o ano de 1991. Razões familiares mudaram a minha residência de Castelo Branco para Alvalade, em Lisboa. Ficaria por ali. Mas decidi trocar emprego seguro por uma viagem a Viana do Castelo que me permitiu, depois, ir estudar Aquacultura, para o sul de França, durante um ano letivo.
Parti, de Santa Apolónia, em novembro. Deixei a minha mãe de coração nas mãos. Mas, tal como os emigrantes, voltei cá pelo Natal e, em junho de 1992, estava de regresso, em definitivo, após uma reunião no Porto, que acabou num bar da Ribeira, no número 30 da Rua Lada: “O meu Mercedes é maior que o teu”. Ainda trago a música pop rock do bar no ouvido!
Mas já não ouço as músicas que a juventude de hoje ouve, como constatei, a meio de agosto, na Costa da Caparica. A convite nosso, almoçaram lá em casa oito jovens albicastrenses, que trocaram tardes beirãs por noitadas no festival Sol da Caparica. Quando os ouvi a falar do cartaz do festival, percebi que só conhecia o José Cid! Que diabo!
A música melhorou bastante dias depois, quando visitei a Rádio Condestável, em Cernache do Bonjardim, para a qual trabalhei sete anos, entre 97 e 2003, mas onde já não ia quase há 20. O Carlos, o Luís Biscaia e o José Carlos Reis continuam em grande forma. A rádio é ouvida em quase toda a zona centro e até em Espanha. Foi tão agradável que, para o ano, se não for antes, a conversa será ao almoço, num dos dias em que troco Loures por Proença-a-Nova.
A troca é equilibrada, pelo menos no que diz respeito à caminhada matinal. Passo das lezírias do Infantado para a floresta de pinho (e não só!), com paragem nas fontes do percurso. E deixo de ser anónimo, pois em Proença-a-Nova, tal como em muitas zonas do Interior, “a salvação dá-se sempre, ainda que não conheças as pessoas”, como diz o meu amigo Carlos Pedro.
E quando conhecemos todas as pessoas? Cumprimentamo-las a todas, como faz o meu querido amigo Nuno Marçal, o bibliotecário ambulante do concelho de Proença-a-Nova, que mantém culturalmente vivas as pessoas e os locais que o despovoamento teima em excluir. É obra! São 16 anos a ouvir estórias para as quais faltam ouvintes. Mas o Nuno regista-as, em textos e imagens. Que privilégio!
Maior privilégio é poder almoçar com o Nuno, em agosto. Sempre no ‘Boa Viagem’, onde o casal Elias e Fátima Fernandes fazem uma cabidela de sonho. Foi assim no ano passado, mas este ano… chegámos tarde. O amigo Elias ainda se desculpou. Sem necessidade, pois as asas de frango estavam divinais. E, como diz o povo, não faltarão oportunidades.
O que faltava era cumprir uma promessa: almoçar, com o meu amigo Jorge Alves, no ‘Noite e Dia’, no Vale da Mua. É que almoçar com o Jorge é coisa rara, pois sobra-lhe trabalho e falta-lhe tempo. Mas este não! O Jorge e o sobrinho, o meu vizinho Rui Alves, cozinharam uma cabidela absolutamente imperdível! E até houve tempo para a foto que acompanha esta crónica.
Só faltou mesmo o Nuno Marçal que, por razões familiares, não pôde ajudar às recordações sobre algumas memoráveis noitadas em Castelo Branco, já lá vão uns aninhos! Mas se a saúde o permitir, em breve nos sentaremos de novo à mesa, seja com cabidela ou com asas de frango, seja em Proença, no Vale da Mua ou onde for. Porque há amigos que não se esquecem!

Vitor Tomé
vtome@autonoma.pt

COMENTÁRIOS

JMarques
à muito tempo atrás
Ilda.