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A falta de professores. Uma situação preocupante

Florentino Beirão - 16/12/2021 - 9:18

A falta de professores nas nossas escolas não é nova, mas, com os anos, tem-se vindo a agravar. Se o país não encarar de frente esta lacuna, as próximas décadas podem transformar-se num autêntico pesadelo, para o futuro escolar dos nossos jovens.
O ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues, sobre o assunto, recentemente informou que “as nossas escolas se encontravam sujeitas a muitos constrangimentos aos quais era necessário prestar toda a atenção para se poder recuperar muitas das aprendizagens perdidas, devido à prolongada pandemia que nos foi confinando largos períodos escolares”.
Passado alguns dias após estas declarações, a comunicação social, reportando-se a um levantamento efetuado junto das escolas do país constatou que havia ainda nesta altura do ano nada menos do que 1 1000 turmas com “furos”, (horas sem aulas), em todo o país. Quer isto dizer que há professores em falta a uma ou a várias disciplinas. Calculam os sindicatos que este número atinge agora 20 mil estudantes sem professor. Só a informática, são 3.5000 que encontram-se à espera.
Esta situação seria ainda muito mais gravosa s se o Ministério da Educação não tivesse contratado professores da escola, para fazerem horas extraordinárias respondendo assim a esta grave carência de docentes.
Se é verdade que o número total de turmas representa uma pequena parte das 50 mil existentes, o que é certo, é que, tratando-se do futuro de tantos milhares de alunos sem algumas disciplinas, não deixará de afetar certamente muitos alunos que poderão vir a ter dificuldades em reter novas aprendizagens.
Sabendo nós que o nosso país se destacou na União Europeia, pelo elevado número de dias de ensino à distância, é fácil concluir que as lacunas deixadas nas aprendizagens, deixarão os nossos alunos numa posição de inferioridade, face aos colegar que estudam nos países que integram o espaço da União Europeia.
Por isso, o Estado Português não pode falhar um dos seus principais deveres. Proporcionar aos nossos estudantes o número de professores a que têm direito - como cidadãos de pleno direito que são - para se desenvolverem plenamente.
Por sua vez, os sindicatos, face à carência de docentes, têm avançado com números assustadores para alguns distritos. Nomeadamente para Lisboa, onde há ainda 34 708 horas por preencher: em Faro, com 8 504 horas e, em Setúbal, as 14 697.
Sabendo nós que, tanto Setúbal como Faro são das zonas mais pobres do país, com muito desemprego e elevada pobreza, é fácil concluir que os pobres são sempre os mais prejudicados quando há dificuldades sociais. Estes números demonstram bem que a falta de horas de ensino-aprendizagem se concentram em regiões com populações mais carenciadas. Por este motivo, tem de haver políticas sociais e educativas favoráveis para estas zonas do país, onde tem havido mais dificuldades em contratar professores devido a horários incompletos e alugar habitação com preços elevados incompatíveis com os baixos salários dos docentes.
Entretanto, não podemos deixar de louvar uma recente medida do Governo, ainda que muito discutível para alguns sindicatos, segundo a qual, para se obviar a esta situação da uma elevada falta de docentes, o ministério da Educação vai lançar uma medida que consiste na criação de uma “task-force” para ajudar as escolas a preencher as lacunas detetadas em numerosas escolas do país. É pena que esta medida chegue um pouco tardia uma vez que foi necessário chegar-se ao mês de novembro para se tentar solucionar um problema que, desde o início do ano letivo, era mais que previsível. 
Esperamos que o Governo não se fique pela curta política “de tapa- buracos”, mas tenha em conta que o problema da falta de professores não é conjuntural, mas sim estrutural. É que esta situação, segundo os estudos efetuados, vai agudizar-se no futuro. Assim, segundo um recente estudo diagnóstico da necessidade de docentes de 2021 a 2030, revela que, dos cerca de 120 mil professores em atividade no ano letivo de 2018/2019, 40% vão reformar-se na próxima década. Para colmatar tal caudal de saídas, será necessário recrutar nada menos do que 34 500 docentes até setembro de 2030. Cerca de um terço de professores do nosso sistema de ensino público. Perante este desafio, o Governo pensa num processo acelerado de formação e captação de novos docentes, para os quadros do ensino. Medida que já foi contestada por alguns sindicatos que temem a descida da qualidade do ensino. Aguardemos.
florentinobeirao@hotmal.com 

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