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Leitores: Baixos salários. Jornalistas e precários, que futuro?

Jaime Lourenço - 06/10/2022 - 10:02

Nas últimas semanas começou a circular em várias redes sociais um documento que apresentava, entre outros dados, remunerações de jornalistas portugueses de forma anónima.

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Nas últimas semanas começou a circular em várias redes sociais um documento que apresentava, entre outros dados, remunerações de jornalistas portugueses de forma anónima. Trata-se de um documento colaborativo em que, anonimamente, qualquer jornalista o podia preencher. O propósito foi dar a conhecer os baixos salários que muitos jornalistas auferem nos dias que correm. Apesar de o documento ter sido preenchido por uma pequena percentagem dos jornalistas em exercício, pudemos constatar que as remunerações daqueles que o indicaram são, de facto, baixas. 
Recorrendo ao recente estudo “Os Efeitos do Estado de Emergência no Jornalismo no Contexto da Pandemia Covid-19”, realizado entre Maio e Junho de 2020, com a participação de 890 jornalistas, quase metade dos jornalistas em exercício declarava ter um rendimento bruto inferior a 900€. Um valor abaixo da média da remuneração bruta mensal do trabalhador em Portugal: 1.276€, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística.
Este é um cenário preocupante. Ainda para mais sendo o Jornalismo tão central nas nossas sociedades e vital para a democracia. Num quadro precário, de desigualdades, de extrema dificuldade em ingressar na profissão e sem horizontes de progressão na carreira, estes profissionais acabam expostos às mais variadas pressões, em equipas reduzidas numa polivalência e acumulação de funções (reflexo das sucessivas ondas de despedimentos dos grupos de media).
Já em 2000, o teórico norte-americano James Carey afirmava que os jornalistas “têm mais capacidades e melhor formação, mas têm menor controlo sobre as condições do seu trabalho e são menos livres do que os jornalistas das gerações anteriores”. 
A precarização dos jornalistas foi amplamente discutida no último Congresso dos Jornalistas em Janeiro de 2017, tendo sido inclusive aprovada por unanimidade uma moção contra a precariedade desta classe. No entanto, continuamos com uma profissão desigual e precária. Com um novo Congresso agendado para 2024, este será certamente um dos temas centrais. 
Poderão argumentar que este é um problema exclusivo dos jornalistas e dos profissionais dos media, mas este é um problema que diz respeito a todos enquanto sociedade. Porque é com a informação e o Jornalismo que orientamos as nossas vidas no quotidiano colectivo e de cada um. A principal finalidade do Jornalismo é mesmo essa: fornecer aos cidadãos a informação de que precisam para serem livres e se autogovernarem. Ora, se esses profissionais estão insatisfeitos, a viver precariamente e altamente pressionados por forças externas (políticas, económicas, etc.), a informação de que iremos dispor será afectada e todos sairemos prejudicados. 


Professor Auxiliar na Universidade Autónoma de Lisboa
Por opção do autor, este texto não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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