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Castelo Branco: Reclusos ajudam crianças especiais a aprender

José Furtado - 05/02/2021 - 11:00

Alunos da escola da prisão desenvolveram uma consola que pode ser utilizada por crianças do ensino especial. ideia está a espalhar-se pelo país.

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Consola foi desenvolvida na prisão e está a chegar a vários pontos do país. Foto +Power

Esta é uma história cujas realidades e protagonistas parecem estar tão distantes como os quase 300 quilómetros que separam Castelo Branco de Vila Nova de Gaia.

De um lado estão os alunos do curso de técnicos de informática da escola do Estabelecimento Prisional de Castelo Branco, que faz parte do Agrupamento de Escolas Nuno Álvares.

Do outro, alunos do projeto "SIM, Somos Capazes", do Agrupamento de Escolas de Canelas - Gaia, que forma jovens com necessidades especiais.

A uni-los estão dois professores que se conheceram quando foram finalistas do Global Teacher Prize Portugal, que escolhe o professor do ano.

Foi nessa final, há pouco mais de três meses, que o albicastrense Paulo Serra conheceu o colega Luís Baião e juntos decidiram pôr em prática uma ideia simples, para ajudar alunos com necessidades especiais a aprenderem.

Quando se cruzaram nos prémios “percebemos que já tínhamos trabalhado em projetos que tinham muito em comum, mesmo que nunca nos tivéssemos conhecido antes”.

E foi assim que nasceu o +Power.

Apresentação do projeto feita pela equipa do projeto. Fonte Youtube

 

Em Castelo Branco o desafio foi desenvolver uma consola que pudesse ser utilizada pelos alunos com necessidades especiais e que fosse de uso fácil e barata de produzir.

Paulo Serra e os seus alunos na prisão conseguiram-no com pouco mais que teclados velhos, botões, madeira e cola.

O professor de informática que esteve nomeado para professor do ano por, entre outras coisas, colocar os reclusos a construírem computadores a partir de peças velhas, pegou em teclados velhos e pediu aos reclusos para os desmontarem, perceberem como funcionavam e reconverte-los para novas funções.

Depois, pediram ao FabLab – o laboratório que funciona no Centro de Empresas Inovadoras de Castelo Branco – para embrulhar estes elementos numa caixa de madeira, que serviu de corpo à consola. Em Gaia desenvolveram-se os conteúdos, que têm por base a aplicação PowerPoint, disponível em quase todos os computadores.

Uma coisa ligada à outra faz com que um aluno com necessidades especiais consiga selecionar facilmente qual a resposta que quer dar à pergunta que aparece no ecrã, mesmo que tenha dificuldades motoras.

O projeto tem uma página na internet, em http://www.maispower.pt, onde a equipa partilha os recursos e até já promoveu uma formação à distância, que aconteceu no final de janeiro.

O número de parceiros está a crescer e inclui as câmaras municipais de Castelo Branco e de Vila Nova de Gaia, tendo também despertado a atenção do Ministério da Educação, que se fez representar no encontro virtual.

De Castelo Branco e Gaia também já saltou para outras localidades como por exemplo Ourém, onde um grupo de alunos está a fazer desenhos para melhorar a imagem dos exercícios.

O que está publicado na página do +Power é de acesso livre e pode ser replicado por outros professores e escolas que o queiram fazer.

E com isso também receber voluntários para enriquecer a oferta de recursos. “O que foi já feito e testado está partilhado”, reforça Paulo Serra.

Também por isso “agora há a responsabilidade de não desistir. É um projeto que - obrigatoriamente - terá de continuar. Temos essa obrigação perante os alunos e perante a sociedade”.

INTEGRAÇÃO Paulo Serra é um convicto defensor do ensino como fator de mudança da população reclusa e de integração desta na sociedade.

Professor há quase 30 anos na Nuno Álvares tem feito o seu percurso no ensino atrás das grades, onde a preocupação com estes adultos é a mesma dos colegas que trabalham com adolescentes: dar-lhes um futuro.

“O que me move pessoalmente é a qualidade do ensino em reclusão. Eu podia fazer a consola mas isso não acrescentava nada ao aluno”, exemplifica com o projeto mais recente.

Para ele “o recomeçar é possível. E recomeçar ajudando a sociedade”.

A primeira vitória é quando um recluso se motiva para ir às aulas.

“Eu acredito que o ensino em ambiente de reclusão terá de ter muita qualidade. Eu costumo dizer que a responsabilidade que nós professores temos é equiparada muito à questão da segurança pública. Se o nosso trabalho for bem feito eu quero acreditar que aquelas pessoas ficam com outras condições ao nível da capacidade de integrar”.

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