Penso em ti Castelo Branco, e nos concelhos da qual és Capital, e vejo-te triste e transfigurada.
Como é triste ver que aquilo de que gostamos e que amamos se está a definhar e a mirrar de forma veloz e irreversível se nada se fizer para contrariar essa linha que pode não ter retorno.
Essa linha não é mais do que um contínuo que escoa a uma velocidade avassaladora a vida na cidade de Castelo Branco.
Sim! a vida da cidade só existe se houver gente.
E o que temos vindo a assistir, como escreveu um autor sem voz, é a uma deprimente hemorragia na vida da cidade, bem como do Distrito, do qual Castelo Branco é capital.
Quero expressar a minha mágoa e dolorosa tristeza por aquilo que está à vista de todos, o encerramento de empresas e também a possibilidade de encerramento de serviços públicos em geral.
O ensino superior também poderá ter os dias contados, devido à perda de alunos, existindo também a possibilidade de mais ano ou menos ano fechar portas.
Nos outros níveis de ensino também vamos assistindo ao encerramento de escolas por falta de alunos.
A terra de Amato Lusitano, bem como nos seus concelhos limítrofes, de acordo com estudos europeus, são os mais envelhecidos da Europa.
É preciso procriar, é preciso povoar, é preciso criar estratégias e estruturas que levem no caminho da reprodução social, e não do esvaziamento e desertificação da Beira Baixa, nomeadamente a linda cidade de Castelo Branco.
Julgo não errar se apontar como causa primeira para este processo de desertificação a falta de trabalho devido ao encerramento das empresas.
Não havendo postos de trabalho não se consegue fixar a população, e também não se conseguem cativar novos residentes para a cidade, ou para o Distrito.
Não basta que a cidade de Castelo Branco seja bonita, tenha rotundas, arruamentos e betão, isso não basta.
As pessoas ainda em idade ativa partem para outras paragens.
Perante esta situação, a consequente partida dos mais jovens para outras cidades, mas sobretudo para o estrangeiro, torna-se um facto doloroso mas inevitável.
Ora, se não há jovens na cidade não há, como é óbvio, natalidade.
Se não há natalidade não há renovação da população.
Não há “stock” para substituir os que vão morrendo.
Não há “stock” porque não há trabalho e se não há trabalho, não há fixação das populações jovens e, portanto, o envelhecimento da população passa a ser a linha mestra que a curto prazo levará à desertificação total.
Os mais velhos (lei da vida) vão partindo, até que brevemente a cidade se tornará um fantasma de betão (como já referimos) no seio da bonita planície beirã.
Assistimos com tristeza ao desaparecimento de instituições como o Águias da Sé, dos centros de recreio e das coletividades bairristas.
O velho Benfica (velha glória dos albicastrenses) já não tem expressão na cidade e qualquer dia desaparece também.
Os cafés fecham.
Nos concelhos pertencentes ao Distrito, do qual a cidade é capital, a desertificação é ainda mais notória, como já se referiu.
O comboio e os autocarros chegam vazios e vazios partem pelo que qualquer dia diremos adeus à velha linha férrea da Beira Baixa, e o novo centro rodoviário tornar-se-á tão deprimente como o velho.
As grandes superfícies limitam-se a passeios de vaidades.
Grande quantidade de pessoas bem qualificadas, todos os dias, despedem-se da cidade pelo que nos perguntamos se os que ficam ficarão?
Numa cidade tão pequena, os golpes de esvaziamento fazem grande mossa, e fazem mais estragos que numa cidade grande.
Outrora sentia-se um prazer imenso passear pelas ruas da cidade e pelos concelhos em redor, mas hoje chega a ser doloroso passear pelas ruas desertas da cidade, e deprimente visitar os concelhos e freguesias limítrofes.
Observamos a cidade desertificada e os concelhos à sua volta e estes olhos que interrogam: que fizemos para merecer isto?
Não se pretende distribuir culpas, porque isso não soluciona o que já não tem solução, mas apesar disso, um dia alguém irá fazer uma profunda reflexão, uma autocrítica rigorosa a fim de se colocar um dique de contenção (esperemos que não seja demasiado tarde) a esta terrível hemorragia.