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Cata-ventos: Aqui há gato e outros animais

Costa Alves - 10/02/2022 - 9:49

Uf! Já lá vão 11 dias e ainda não recuperei. Fiquei que nem posso. Tevês e mais tevês, arruadas e mais arruadas - que palavrão! Fiquei arrasado. Foram tantos quilómetros de tempo a arruasar que agora não sei dizer coisa com coisa.
Ora eu, que procuro preservar algumas das minhas inocências de criança, fiquei de boca aberta a olhar para aquelas barulhadas a ribombar entre fervores que os ares da Covid não convidavam. Via-os a rasurar o que são e a mostrar as suas habilidades porque, dizem, é desse género de nudez que, ao léu, o povo gosta.
Esperava que oferecessem mais qualquer coisinha, além das habituais esferográficas (isqueiros já parece mal) com que acenavam. Mas não. E pensava: aqui há gato. E vim a perceber que havia mesmo gato e até cão, cadela, coelho e sei lá que mais zoologia nestas ditas arruadas que não são nenhum jardim zoológico e mais se assemelham a paradas. 
Ainda se fossem animais que se vissem, como a altiva girafa ou o resiliente (como agora se diz e já cansa) camelo. Ou o paciente burro - animal da minha estimação que é mais inteligente do que quem anda por aí a dizer que o burro é burro. Não aceitaram e foi o gato Zé Aldino que subiu mais vezes ao palco. Os circos, os verdadeiros, sabem do ofício e não caem nestes alçapões. Sabem que o ridículo fere e mata-se.
Entretanto, os canídeos Maná e Cocas rabujavam para um lado e, depois, para o outro, primeiro cara depois coroa, e eu já nem sabia onde tinha os olhos. Começaram por querer tudo para eles, só queriam atuar sozinhos e receber as palmas do absoluto. Mas, quando viram que as palmas sondadas eram duras de roer, logo viraram a página e ficaram mansinhos, como se, de um momento para o outro, tivessem deixado a sua genética canídea e se moldassem em coelhinhos ou gatinhos de só fofura e brincadeira. Foi um problema, mas, no fim, sondagens e tevês à parte, tudo se compôs e o mestre da tática arrasou. Conseguiu o absoluto que há muito perseguia.
Entretanto, até um coelho e outros canídeos apareceram. Todos sentiram o dever de participar na dança. Mas não aceitaram o meu elefante e barraram-lhe a entrada. Disseram que iria partir a loiça toda. Confesso que era o meu trunfo, mas, na verdade, quem sou eu para dar resultado?
Por seu lado, o gato Zé Aldino lá ia fazendo pela vida, saindo da casota onde tinha estado a meter os pés pelas mãos este tempo todo em que ninguém dava nada por ele. Pôs o dono a fazer piruetas de mudança de personalidade e começou a afiar as garras quando viu os canídeos Maná e Cocas naquela agitação entre ter e não ter. Eu bem tentava distanciar-me destes animais políticos e, se não fosse por causa de coisas, confesso que os enxotava. Mas lembrei-me dos meus tempos de ó-pernas-para-que-vos-quero, quando os canídeos da polícia de choque avançavam, a coberto dos jatos de água, para ferrarem o dente e nos atirarem para a grelha dos pides.
Bem, não quero comparar, pois estes, o Zé Aldino, a Maná e o Cocas mais os outros que saltaram, a Pala, o Camones, e até o coelho que queria fazer tremer o sistema, sendo animais políticos, pois então, fartam-se de palrar piadas de mau gosto que baralham as sondas para gáudio das arenas das tevês.
É como disse. Ainda não recuperei das fadigas. Estas passeatas moem, mas na democracia a gente é capaz de tudo por ela; até do pior. O leitor que me perdoe, mas aqui fica o ralhete de quem está farto deste género de arraiais. Ai ai, democracia, não te alargues nem te aprofundes, não!

mcosta.alves@gmail.com

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