Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Contrabando: Documentário guarda memórias

José Furtado - 15/07/2015 - 18:03

Paulo Vinhas Moreira percorreu a linha de fronteira entre a Meimoa e Marvão e recolheu histórias de quem viveu com o contrabando. VÍDEO

Partilhar:

Contrabando: Documentário guarda memórias

De um lado, a lei. Do outro, a sobrevivência. Foi assim durante décadas nas aldeias entre Portugal e Espanha, que serviram de cenário ao contrabando. Esta atividade ilegal, que foi uma verdadeira indústria para muitas gentes da raia, está agora contada num documentário de Paulo Vinhas Moreira, que foi apresentado em antestreia no Festival Salva a Terra. O autor tem o contrabando no sangue, embora nunca o tenha vivenciado. O avô, que era da aldeia penamacorense da Meimoa, foi um dos homens que se dedicou à atividade. A ideia de fazer algo sobre o contrabando andava na cabeça há algum tempo e o clique que faltava surgiu na Escola Tecnológica e Profissional Albicastrense, onde dá aulas, quando uma das alunas escolheu o tema para a sua prova de aptidão profissional. Foi então que decidiu começar a recolher testemunhos, percorrendo uma linha de fronteira com mais de 200 quilómetros que vai do concelho de Penamacor até ao norte alentejano. O trabalho no terreno, que durou cerca de dois meses, foi feito aos fins-de-semana e com milhares de quilómetros percorridos. Nestas viagens ficou a conhecer tesouros como a Pitaranha, a aldeia do concelho de Marvão onde o contrabando era o principal ganha pão. Nas aldeias, cada vez menos povoadas, Paulo Vinhas Moreira encontrou pessoas que viveram o contrabando na primeira pessoa e outras que guardam as histórias contadas pelos familiares. A recolha junto de quem fez contrabando revela-se urgente. ""O risco que corremos é que estas histórias se percam no espaço e no tempo e não haja nenhum registo de uma forma mais documental"", disse o autor na conversa em Salvaterra do Extremo.O contrabando era feito de risco mas também de alguma cumplicidade. ""A própria Guardia Civil, muitas das vezes, fechava os olhos, porque era um contrabando que servia a aldeia"", diz o realizador. Em alguns casos os agentes da autoridade levavam uma vida dupla, fiscalizando de dia e contrabandeando à noite. Conseguir estes testemunhos foi uma das dificuldades que o autor encontrou. O contrabando é o tema central do documentário mas este é também um retrato ""sobre a fronteira, a perda de população e a morte lenta das aldeias"". As fronteiras acabaram oficialmente há 20 anos mas, ironicamente, nota-se um afastamento entre as pessoas.""Eu acho que a distância é cada vez maior. Enquanto havia fronteira havia o delito do contrabando mas havia proximidade, com muitos casamentos entre gente dos dois lados da fronteira. Para mim a fronteira é hoje maior e isso faz com que a nossa raia esteja cada vez mais perdida e longínqua"", diz Paulo Vinhas Moreira.  

COMENTÁRIOS