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Debita Nostra CLXXV

Luís Costa - 13/01/2022 - 8:05

“Terá chegado a altura de pensar uma alternativa à Democracia? Chegou sem dúvida, mas essa alternativa não existe sequer teoricamente. Qual seria o desenho de um regime que nos desse Liberdade, um Estado de Direito e um Estado Social? Não faço ideia. Ilude-se quem pensa que a regeneração da Democracia depende da bondade dos homens. No estado a que chegámos, é o sistema que está doente e esgotado.” (M.ª Fátima Bonifácio, PÚBLICO, 24-05-2021)

O grande inconveniente do prevalecente “realismo” social e político não é o de nos dizer que não se controla um carro, a alta velocidade, com uma travagem brusca. Mas o de nos distrair de pensar a velocidade e, consequentemente, as formas de a controlar.

E se isso serve a quem está com pressa, ou abomine “pensadores”, não me parece de grande préstimo para quem valorize os desvanecidos fundamentos da democracia, enquanto apurado método do reformismo político.

É que, vendo bem, “o horizonte dos possíveis encolheu terrivelmente. Mas não se dá por isso, porque o próprio desejo de o alargar desapareceu” (José Gil, “Portugal, Hoje – o Medo de Existir). Enclausurando a sociedade numa falha de alternativas, quer por infanticídio, quer por tudo se fazer para as ‘confundir’ com as mais desastradas das ‘experimentações’ políticas.

Acontece que, não sendo por aí que hoje se ameaçam os regimes democráticos, se torna instante o vislumbre das razões para que tenha “chegado a altura de pensar uma alternativa à Democracia”. Trocando-a por “um regime que nos desse Liberdade, um Estado de Direito e um Estado Social”, uma vez que, “de doente e esgotado”, este sistema não nos serve.

Quanto a mim, que não me quero “iludir” a pensar na sua “regeneração” e que ela dependa da “bondade dos homens”, deve andar por aí “mão-invisível”. Tanto mais inobservável quanto menos se queira ver.

E se ‘ilusão’ for a de que nas nossas sociedades basta concorrer para que se possa ganhar e que dessa viciada competição pode advir qualquer equilíbrio social (como muito se tem visto desde os primórdios do liberalismo à mais recente “terapia-de-choque” para a ‘conversão’ da Rússia)?!

E se a presente concentração do rendimento não for um dano colateral, mas redundância histórica de pouco recomendáveis consequências (Piketty)!? E se a atual ‘criatividade’ na reprodução do dinheiro for sofisticado costume de que andámos milénios a tentar proteger-nos (Aristóteles)?! E se as toleradas formas “legais” de evasão fiscal forem um natural produto dessa mesma ‘cultura’ (NPapers)!? E se o seu limite for não só a asfixia dos sistemas produtivos (dos salários aos lucros), como também a do original reformismo, enquanto projeto de mudança social?!

Certamente que a todos nos condiciona a imediata velocidade (conjuntura). Mas, antes de dar por esgotado o sistema político, não convém pensar no que é que são “reformas estruturais”?!

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