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Desinformação: A outra pandemia. A opinião de Jaime Lourenço

Jaime Lourenço* - 07/03/2022 - 15:25

Exigem-se "políticas públicas concretas de literacia mediática e digital" e "um jornalismo mais robusto". 

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Apesar de a Covid-19 ainda pairar sobre nós, há outra pandemia que está instalada nas nossas sociedades e que ganhou proporções imensuráveis: a desinformação. Este fenómeno passa pela disseminação de conteúdos propositadamente falsos com motivações políticas, económicas, ideológicas, comerciais ou outras com a intenção de causar danos. Hoje, a desinformação propaga-se com muito mais facilidade e de forma mais veloz graças à entrada do online nas nossas vidas. Qualquer pessoa, numa questão de minutos, consegue criar websites que se apresentam como fontes credíveis (muitas vezes até imitando o visual de jornais de referência) confundindo os utilizadores que, sem avaliar a credibilidade da informação, a comentam e partilham desenfreadamente nas redes sociais. Além disso, existem também os agentes que intencionalmente disseminam a desinformação e destabilizam as discussões online visíveis nas caixas de comentários de qualquer jornal online.

A desinformação sempre esteve presente ao longo dos anos, nomeadamente nos conflitos bélicos, mas se nos recordarmos, sempre acompanhou a Humanidade desde os primórdios tal como nos recorda o livro do Génesis do momento em que a serpente indica informação falsa sobre o fruto da árvore do jardim do Éden.

Nas últimas décadas passámos de uma era em que os cidadãos procuravam informação nos media para uma era em que é a informação que vai ao encontro do cidadão. De acordo com o Reuters Institute Digital News Report de 2019, os cidadãos com menos de 45 anos tendencialmente acedem à informação através de redes sociais como o Facebook, o Twitter ou o WhatsApp. O problema é que estes cidadãos deixaram de consumir notícias curadas jornalisticamente e passaram a ler conteúdos jornalísticos (e camuflados como jornalísticos) seleccionados por algoritmos nos seus smartphones em que tudo parece informação fiável e credível.

Mas como contornar este problema? À falta de uma vacina milagrosa para estes tempos pandémicos (além da Covid), a solução, parece-nos, passa por um investimento em políticas públicas concretas de literacia mediática e digital junto tanto dos jovens como dos seniores de forma que estes saibam ler criticamente a informação e tenham competências para descodificar qual a informação credível. Mas também um investimento num jornalismo mais robusto, coeso e desenredado das múltiplas crises em que está envolto (tema a que nos dedicaremos em breve). É certo que são soluções insuficientes, mas é o início de um percurso longo que temos a percorrer, pois como refere o jornalista e investigador Paulo Pena no seu livro Fábrica de Mentiras, “se a informação que temos é falsa, as nossas opiniões serão frágeis, e quando muitas opiniões se baseiam em falsidades, em preconceitos, em erros ou falácias, a nossa vida comum - a democracia - está em risco”.

 

*Por opção do autor, este texto não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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