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Digressões Interiores: A vida dá muita volta

João Lourenço Roque - 01/06/2017 - 8:00

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Aproveitei o finamento de Abril – tempo que medeia entre a lua cheia e a lua nova – para me agarrar à horta. Em algumas valas plantei cebolo, pimentos, beringelas e tomateiros. Noutras deitei à terra sementes de pepinos, courgetes e abóboras; de melancias e meloas. Com muita fé e maior cuidado, na esperança de que germinem e medrem sadias e carregadas de bons frutos. Assim o tempo ajude e as pragas não apareçam… Muitas vezes quanto mais flor fazemos nas coisas mais elas se perdem. Nas manhãs e nas tardes tranquilas passadas na horta, mesmo sozinho nunca me sinto só. As duas gatinhas nem ali me largam admiradas e contentes, espojadas na terra fresca ou à sombra das oliveiras. Numa colina próxima canta um “pastor” todo o santo dia, ora “modas da igreja”, ora “fados” de antigamente. Só é pena não saber cante alentejano nem tocar pífaro ou viola campaniça. Mais perto ainda cantam as rolas, os melros, os rouxinóis e as cotovias. De Coimbra até aos Calvos, a vida dá muita volta… Entre vizinhos da aldeia e antigos colegas da universidade, não faltará quem estranhe o meu regresso às origens, neste “Vale de Lobos” desconhecido, e a minha devoção a lidas agrícolas tão cedo afastadas do meu destino. A mim, agora mais me custa entender que haja pessoas  - tantas pessoas , toda a vida amontoadas noutros cuidados e ilusões – que nunca sentiram os apelos e os perfumes da terra ou os encantos da natureza nem dão valor nenhum a estas coisas de que mais falo. Coisas tão simples e efémeras, por isso ainda mais maravilhosas e eternas… A vida dá muita volta… ai as voltas que a vida dá! No dia 22 de Abril fomos a São Domingos para assistir e participar na inauguração de um edifício - espaçoso, moderno e funcional – de apoio logístico às “romarias” e a outros eventos festivos. Obra inovadora com a marca distintiva da Comissão de Festas (de que faz parte o meu irmão) – que vivamente felicito -, da Presidente da Junta de Freguesia das Sarzedas, Drª. Celeste Rodrigues, e do Presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, Dr. Luís Correia, a quem deixo uma palavra de muita estima e admiração pela forma como exercem o poder democrático, sempre em proximidade e em sintonia com os anseios das populações que lideram e servem de modo exemplar. Gostei de tudo naquela tarde desigual que juntou centenas de pessoas: ambiente de convívio fraterno, aproximação de jovens e idosos, foguetes como dantes, bonitas peças tocadas por uma banda filarmónica de Castelo Branco, discursos bons e emotivos, reencontros com parentes e amigos, conversas sérias ou passageiras, mulheres lindas, lanche muito variado e farto. Tão farto que “encheu as barrigas” e que – ouvi dizer – ainda terá dado para atulhar bolsos e malas de quem gosta de “fazer de formiga”. Duas semanas depois mais e melhores festejos em São Domingos na romaria de Maio. Há muitos anos que lá não vou, ai as voltas que a vida dá… Lembrei-me de ti naquelas “modas” antigas: “Ó São Domingos Bendito/ Venho dar-vos a despedida/ Ou será por pouco tempo/ Ou será por toda a vida”. – “Ó São Domingos Bendito/ Dai-me os vossos sapatinhos / Vós ficais em vossa casa/ Eu vou por esses caminhos”. Caminhos meus, caminhos nossos, que este ano me levaram, com o meu irmão e o rancho dos Vilares, à romaria da Senhora da Saúde… Talvez te conte na próxima crónica. Ou no livro que lá para Setembro espero publicar.

 

COMENTÁRIOS

Maria Beatriz
à muito tempo atrás
Sendo uma crónica do ano passado, não deixa de ter um sinal de interesse pelo seu cariz de visualização . Cria a sensação de nos integrar nos acontecimentos narrados pelo Dr João Roque. Tem um carinho especial pelo trabalho agrícola. Cultiva a Natureza, uma mudança radical na sua vida de hoje, bem-haja. Faz bem ao espírito.