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Leitores. Castelo Branco. Um projeto para o museu de arte contemporânea portuguesa

Maria João Fernandes - 07/07/2016 - 10:30

É esta a mensagem que deixo hoje registada nas páginas deste jornal. Chegou o momento de afirmarmos na atualidade o valor ancestral da nossa arte e da nossa cultura. Essa seria uma missão conjunta, a desenvolver por todos os portugueses e não apenas ao nível da capital e dos centros onde o poder se decide

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Idealizei o meu projeto de criação do Museu de Arte Contemporânea Portuguesa em Castelo Branco, já nas mãos dos Sr.s Presidente e Vereador da Cultura da Câmara Municipal na sequência da exposição em 2015 da minha coleção de arte em dois prestigiados espaços expositivos, a Biblioteca Nacional e o Museu Municipal de Coimbra, refletindo o meu objetivo de dar a esta um destino museológico. Publico-o hoje para o conhecimento dos portugueses e dos cidadãos de uma região onde já existem polos culturais de interesse nacional. Completei a minha formação e tenho desenvolvido a minha atividade entre Lisboa onde nasci, lecionei na Faculdade de Letras e desenvolvi importantes projetos culturais, Paris, onde fui docente na Universidade de Paris X, Nanterre e exerci a minha crítica de arte, no contacto com as obras dos grandes Mestres da Arte europeia e o Porto onde na Fundação de Serralves, como Adjunta da Direção Cultural organizei a sua exposição inaugural e as mais importantes atividades de dimensão internacional dos seus primeiros anos, edificando os alicerces do que é hoje o Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Os meus passos dirigem-se hoje para Castelo Branco, cidade onde já fui autora de várias grandes exposições: Caligrafias no Museu Tavares Proença Júnior, Universos Femininos no Espaço CTT e recentemente ainda no M.T.P. J. a exposição de obra gráfica do C.P.S., premiada pela A.P.O.M., A Realidade do Imaginário. 
Há uma peça magistral da arte portuguesa contemporânea, os esplêndidos “Mares” de Noronha da Costa, atualmente em exposição no Museu Tavares Proença Júnior de Castelo Branco, que simboliza o movimento da nossa cultura rumo ao horizonte da sua projeção num contexto internacional. Um movimento que pretendo atualmente impulsionar a partir da vossa região e do projeto de um Museu de Arte Contemporânea Portuguesa a implantar em Castelo Branco, capaz de construir o grande edifício da afirmação da nossa identidade e da nossa cultura, na Europa, de que somos parte essencial.
Há uns anos tomei conhecimento da existência destes “Mares” de Noronha da Costa no Museu Tavares Proença de Castelo Branco, onde as telas por falta de espaço expositivo se achavam enroladas e em risco de fatal degradação. Mais recentemente, a 27 de Abril de 2015, fiz dessas peças, para cujo valor simbólico e para a História da Arte Portuguesa, eu chamava a atenção, o centro e o ponto de partida de uma proposta escrita e nessa data entregue ao Presidente da Câmara, para a criação do Museu de Arte Contemporânea Portuguesa em Castelo Branco, a partir da minha coleção de arte, exposta em 2015, assinalando 40 anos de arte e crítica e do espólio ainda sem destino determinado do núcleo de arte contemporânea reunido pelo Dr. António Salvado enquanto Diretor do Museu Tavares Proença Júnior.
Devo esclarecer que a possibilidade de considerar Castelo Branco para cenário deste meu projeto partiu do poeta Gonçalo Salvado (filho do Dr. António Salvado) que por muito amar a cidade que considera sua, quis dar o seu contributo para uma realização que valorizaria o importante património cultural que já aí existe.
Em recente reunião em Castelo Branco com o Vereador da Cultura, Dr. Fernando Raposo, em que participámos, sugeri-lhe a necessidade do urgente restauro dos “Mares” de Noronha da Costa, com vista à inserção da peça no contexto da projetada, e por si aprovada nessa reunião, exposição em 2017, da minha coleção de arte contemporânea, em simultâneo com um núcleo de obras escolhidas do MTPJ, acrescentadas com outras obras que completariam o conteúdo da mostra que receberia o título: “Um Projeto para o Museu de Arte Contemporânea Portuguesa.”
Essa peça protagonista deste projeto e cuja “reaparição” com um valor quase inaugural, eu tinha desejado pudesse surpreender no contexto dessa exposição, foi de imediato restaurada e pode ser hoje vista numa exposição do MTPJ. A peça foi assim salvaguardada e deverá tornar-se agora o “cartaz” vivo, o emblema do projetado Museu de Arte Contemporânea Portuguesa, de que ela merece ser o ícone a nível nacional e internacional. E também deverá estar ao centro da prevista exposição em 2017 sobre este mesmo projeto de que é a génese.
Os albicastrenses, os portugueses, podem agora apreciar esse símbolo da história, da arte e da cultura nacionais. 
O valor do mar não é outro senão o valor mítico e antropológico de um símbolo que achou na cultura e na arte portuguesas o seu sentido. Símbolo de vida e da perenidade da vida em todas as suas transformações, símbolo cósmico e alquímico de uma totalidade que nos remete para a criação e nos devolve a nós e ao mundo a energia e o fulgor primeiros. Símbolo da descoberta, não apenas dos territórios do visível, mas dos horizontes do invisível, vertente fundadora e identificadora da nossa cultura, traduzindo-se no duplo discurso da palavra e da imagem, um outro importante filão da nossa cultura, ao qual em 2013 dediquei a importante e inédita exposição na Fundação Calouste Gulbenkian de Paris: Artistas Poetas e Poetas Artistas, Poesia e Artes Visuais no Século XX em Portugal. 
Como em Madrid a Guernica de Picasso se tornou o símbolo da tragédia de uma era e de uma civilização cada vez mais voltadas para o imperialismo da razão e da matéria, Castelo Branco possui hoje o ícone plástico e simbólico da cultura, da identidade e da história de uma nação. Em carta ao Sr. Presidente da Câmara de Castelo Branco propunha justamente o papel central dessa peça/ícone como polo simbolicamente aglutinador de uma coleção de arte contemporânea a criar em Castelo Branco a partir de uma filosofia desenvolvida por Rui Mário Gonçalves para identificar “o que há de português na Arte Portuguesa Moderna” - o lirismo e o que considerava “arte subtil”. Uma filosofia à qual se iria acrescentar o meu próprio contributo no sentido de definir as pontes com um contexto internacional. 
Visando reunir a minha importante e englobante coleção já organizada por temas fundadores do imaginário do século XX (correspondentes a capítulos respetivos da minha crítica de arte) e a coleção de arte contemporânea existente no Museu Tavares Proença Júnior, de que fazem parte os citados “Mares” de Noronha da Costa juntando-lhes diversos espólios de artistas de renome, a quem estou ligada por décadas de uma relação de trabalho, de confiança e de amizade. Artistas com o prestígio de José de Guimarães, Raul Pérez, Emerenciano, Clara Meneres, Gracinda Candeias que a este respeito já consultei e cujos depoimentos a favor desta iniciativa me proponho recolher e publicar.  
O obstáculo à concretização para este projeto museológico de grande dimensão, a nível local, nacional e internacional, parece ser a inexistência atualmente de um espaço capaz de o abrigar. Gostaria de aportar hoje a solução a esse problema que é possível ultrapassar. O que estaria em causa neste momento seria, não a construção de um edifício, mas a criação de um espólio e o compromisso com uma linha de trabalho que me permitisse a sua organização com vista a um futuro Museu segundo um novo conceito que implicaria a criação de um espaço de acervo com todas as condições de segurança e climatização com vista à conservação das obras e à sua posterior apresentação. Esse espólio seria mostrado rotativamente em exposições temáticas em espaço para tal designado pela Câmara ou no atual Centro de Arte Contemporânea de Castelo Branco que há muito funciona com exposições temporárias. Só que em vez de se basear em protocolos com entidades estranhas à cidade, que evidentemente recuperam as obras cedidas, a atividade deste Centro, sob a gestão da mesma e atual Diretora, passaria a basear-se na dinamização de um espólio próprio, sem cessar acrescentado com novas dádivas que ficariam pertença da cidade e como parte integrante e valiosa do seu património.
É esta a mensagem que deixo hoje registada nas páginas deste jornal. Chegou o momento de afirmarmos na atualidade o valor ancestral da nossa arte e da nossa cultura. Essa seria uma missão conjunta, a desenvolver por todos os portugueses e não apenas ao nível da capital e dos centros onde o poder se decide. A desenvolver numa região onde já existem marcantes núcleos da cultura nacional. Onde pode ser criado o seu mais importante polo, o Museu de Arte Contemporânea Portuguesa construído a partir dos princípios identificadores da nossa cultura. Um projeto ainda inédito, original, de interesse local, nacional e internacional, para o qual ofereço hoje a experiência de um percurso empenhado, isento e sério de várias décadas de crítica de arte e o contributo de uma coleção que é o seu espelho. Um projeto cuja viabilidade e concretização estão hoje nas mãos dos responsáveis da Câmara Municipal de Castelo Branco.

 Poeta, ensaísta e crítica de arte, A.I.C.A. Associação Internacional de Críticos de Arte. Colaboradora permanente do Jornal de Letras Artes e Ideias

COMENTÁRIOS

Jose Sousa
à muito tempo atrás
Muito embora não sendo eu muito conhecedor da matéria, reconheço que seria uma pena, Castelo Branco não agarrar com toda a sua plenitude e força, algo que contribuiria imenso para o seu desenvolvimento, tornando-se assim, uma cidade ainda mais conhecida a nível Nacional e Internacional, para além de outros benefícios que evidentemente viria a usufruir.
José Joaquim Carvalho de Sousa
à muito tempo atrás
Sou um albicastrense acérrimo que muito ama a sua cidade. Já este ano me manifestei sobre este mesmo tema e, gostaria de saber qual o ponto da situação neste momento. Peço portanto ao Senhor vereador da cultura Dr. Fernando Raposo, o favor do que se lhe proporcionar sobre este assunto, enviando para tal o meu endereço electrónico, jjcsousa1950@gmail.com. Não tenho qualquer margem de dúvida que algo com esta dimensão, colocaria a n/cidade numa rota considerável. A não perder, coragem. Há oportunidades na vida, que só surgem uma vez. Os meus cumprimentos, e, muitas felicidades e êxitos para todo o grupo de trabalho dessa Câmara.