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Escola em crise. Urge encontrar soluções

Florentino Beirão - 04/08/2022 - 10:12

Encontrando-nos em férias do ano escolar, será altura de deitarmos um olhar atento ao nosso sistema educativo para, de um modo atento e realista, conhecermos melhor a escola que temos. Muito se tem falado da crise na escola, abrangendo os seus mais diversos aspectos. Desde a fuga dos professores, à falta de disciplina na escola, aos resultados escolares dos alunos e até aos programas de cada uma das disciplinas. Um conjunto de problemáticas que têm criado na opinião pública o sentido de que as nossas escolas estão imersas em vários problemas graves aos quais tem havido muita dificuldade em responder. Nomeadamente, as taxas de retenção de abandono no ensino básico voltaram a níveis anteriores à pandemia.
Agora, com a mudança de ministro de Educação e em ambiente de férias, oxalá que haja tempo suficiente para tratar das dificuldades do sistema educativo, com eficácia e delicadeza. Assunto tão sério merece que todos os responsáveis se empenhem nas soluções. Como se encontra hoje, já deu provas de não satisfazer professores, alunos, encarregados de educação e a sociedade em geral. Por isso, o assunto é demasiado importante, para o podermos colocar de lado.
Peguemos, para começar no problema da fuga dos professores. Dizem-nos os números que cerca de 110 mil alunos estão em risco de ficar sem aulas, a pelo menos a uma disciplina, já no próximo ano lectivo. Em breve, 50% dos actuais docentes estarão reformados. E, para os substituir, não há professores formados para tal.
O que terá acontecido nos últimos anos a uma profissão de prestígio social - que noutros tempos foi tão respeitada - e que hoje está em vias de já o não ser, se não se tomarem já medidas rápidas e eficazes. Por isso, impõe-se uma reflexão sobre as causas e as consequências deste fenómeno.
Os números falam bem alto. Até 2030, metade dos professores que hoje trabalham no ensino público estará reformada. Deste modo, irão faltar milhares de professores nas escolas. Daqui a um ano, não há tempo a perder, vamos precisar de contratar milhares de docentes, pois 110 mil alunos estarão sem aulas, a pelo menos uma disciplina.
Sem professores suficientes e de qualidade, todo o edifício do sistema escolar entra em crise e se vai desmoronando. O novo Ministério da Educação tem de encontrar resposta para solucionar este problema que se tem agravado ano após ano, sem que medidas eficazes e céleres tenham sido tomadas. As escolas não suportam esperar muito mais tempo para a resolução deste magno problema. A solução, certamente, não será fácil, mas fechar os olhos a ele nada resolve.
Segundo os especialistas que tês estudado o assunto, as causas do abandono dos docentes já estão bem identificadas e são sobejamente conhecidas. Uma vida errante de tantos professores que trabalham longe das suas casas, perdendo, em grande parte, o direito à vida familiar. As rendas elevadas das casas, sobretudo nos meios urbanos, para quem usufrui baixos salários, torna-se um grave problema. Vida errante e cansativa tem deixado os professores à beira de um ataque de nervos. E não se pense que o interior é o mais prejudicado. Os grandes centros urbanos também têm sido afectados.
Outra das causas que se conhecem, relativamente ao trabalho do professor na sala de aula é a dificuldade de se fazer ouvir, devido ao ambiente de pouca concentração dos alunos. Dispersos por várias actividades, lectivas ou não, a concentração é-lhes muito difícil na sala de aula, onde a disciplina, muitas vezes, não é fácil de obter. Os governos foram retirando autoridade aos professores que se queixam da falta de apoio governamental, para imporem a sua autoridade, em plena sala de aula. Não que se queira regressar ao antigo autoritarismo, caduco e de má memória, mas definir bem as regras para que os alunos indisciplinados sejam punidos, consoante o grau de gravidade dos seus actos. A família também terá muito a aprender acerca da autoridade do professor.
Para Marçal Grilo, ex-ministro da Educação, acerca dos problemas do nosso ensino referiu recentemente que ”é preciso tornar a profissão de professor atractiva, melhorar o salário, nomeadamente no início da carreira, e estabilizar o corpo docente nas escolas. A contratação de professores devia ser mais da responsabilidade das escolas, porque as necessidades são diferentes. A diversidade é frutuosa, o uniformitarismo é negativo”.

florentinobeirao@hotmail.com

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