Os livros, a literatura e o conhecimento são elementares na promoção da reflexão que desencadeia o interesse pelo país e pelo mundo que nos envolve. Porque, como canta Caetano Veloso, “a frase, o conceito, o enredo, o verso (e, sem dúvida, sobretudo o verso) é o que pode lançar mundos no mundo”.
Os livros, a literatura e o conhecimento são elementares na promoção da reflexão que desencadeia o interesse pelo país e pelo mundo que nos envolve. Porque, como canta Caetano Veloso, “a frase, o conceito, o enredo, o verso (e, sem dúvida, sobretudo o verso) é o que pode lançar mundos no mundo”.
Um estudo publicado este ano e desenvolvido pelo Instituto de Ciências Sociais a pedido da Fundação Calouste Gulbenkian revela que os livros já não são um recurso tão comum para os portugueses uma vez que 61% dos inquiridos não leu qualquer livro impresso no último ano e apenas 7% revelaram ter lido entre 6 a 20 livros. São dados que evidenciam uma ruptura entre os portugueses e a leitura de livros, nomeadamente entre os mais jovens.
Os dados recolhidos apresentam também que aqueles que menos prazer retiram da leitura (43%) são efectivamente os jovens entre 15 e 24 anos. Que jovens estaremos a formar se quase metade daqueles que se encontram na faixa de idades da descoberta do mundo não cultivaram o prazer da leitura e do conhecimento? Onde estaremos a descurar, enquanto sociedade, se após décadas de Plano Nacional da Leitura e políticas públicas de promoção para a leitura nos apresentam estes dados? São interrogações que surgem. Mas as famílias também têm o seu papel de influência, pois a maioria dos inquiridos deste estudo revelou que nunca foi com os pais a uma livraria (71%), a uma feira do livro (75%) ou a uma biblioteca (77%).
Mas recorrer menos aos livros significa que estamos a ler menos? Não necessariamente. As pessoas continuam a ler, a escrever e a consumir informação, mas nas redes sociais, onde o algoritmo dita aquilo que lemos substituindo os jornais e a literatura. Quais os perigos? Não somos nós que seleccionamos aquilo que queremos ler, é-nos sugerida uma amálgama de informação (muitas vezes sem ser verificada, podendo incorrer em desinformação) e temos a ilusão que discutimos e que participamos no espaço público nas múltiplas caixas de comentários, mas passado umas horas a discussão já desapareceu do feed e há novos assuntos a captar a nossa atenção.
O que é necessário é uma leitura crítica capacitada de uma reflexão capaz de originar um discurso e argumentação que fomente o debate público. Para isso, é necessário olhar de outro prisma para as políticas de promoção de leitura e, eventualmente, para as estratégias adoptadas nas escolas de modo a podermos formar cidadãos capacitados, que leiam por prazer e que adquiram competências de leitura crítica.
É este o cenário que nos acompanha: vivemos num país em que a maioria das pessoas não vota, não participa e não lê. Não pode ser um problema circunscrito apenas a estas pessoas, mas sim de todos enquanto sociedade que se projecta no futuro e ambiciona melhores níveis de educação, melhor e maior conhecimento e qualidade de pensamento e participação cívica.
Jaime Lourenço
Por opção do autor, este texto não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.