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Crónica a meu Pai: Faleceu Rodrigo Lopes Alho

Maria Cristina Dias Lopes Silva - 06/10/2016 - 9:39

Dirijo-me aos leitores deste jornal, num estilo próximo daquele que meu Pai, Rodrigo Lopes Alho, utilizava neste espaço jornalístico. Estarão por aí muitos daqueles que leram as crónicas escritas pelo meu querido Pai - que não mais as irá redigir-, mas que certamente me inspira nas palavras que passo a dar-vos a conhecer.

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Dirijo-me aos leitores deste jornal, num estilo próximo daquele que meu Pai, Rodrigo Lopes Alho, utilizava neste espaço jornalístico. Estarão por aí muitos daqueles que leram as crónicas escritas pelo meu querido Pai - que não mais as irá redigir-, mas que certamente me inspira nas palavras que passo a dar-vos a conhecer.
Chegou o futuro que ninguém quer ter presente, no meu caso em particular, o dia em que o meu Pai faleceu, o dia 29 de setembro. Um homem que tão bem se moveu por estas linhas, seja do ponto de vista pessoal, profissional, ideológico ou moral. É chegada a hora de a sua filha revelar a essência da pessoa que a partir dos 70 anos, e ao longo de 15 anos, decidiu revelar-se naquele que ele considerava o melhor semanário da Beira Baixa, assumindo uma atitude crítica, mas sempre construtiva, em relação às grandes questões da nossa cidade. Os valores constituíram a trave-mestra de toda a sua vida pautada por adversidades, à semelhança da generalidade dos cidadãos, mas plena de sensibilidade, emoção e felicidade. Esta é, em linhas gerais, a história de um homem que, pelo seu caráter enriquecedor, merece ser partilhada, e refletida por quem assim o entender.
1. O meu Pai viveu duas etapas distintas na sua vida – uma primeira fase de muito trabalho e dedicação acérrima à sua arte. Estudante de um curso industrial de química na Escola Campos de Melo da Covilhã, nos anos 30, viajava diariamente de comboio para aquela cidade, onde vivia, pelo caminho, aventuras e peripécias maravilhosas, conforme ele registava nas suas crónicas. Tal como afirmava, o seu curso não esteve na base das suas profissões futuras, pois trabalhou em áreas de diferente teor com elevado grau de conhecimento: indústria de fiação, mecânica e refinação de azeites. A empresa Automecânica da Beira contou com o Mestre Alho, funcionário de excelsa qualidade profissional e, simultaneamente, contestatário, nomeadamente na defesa da equidade e justiça para com os trabalhadores. Possuidor de uma riqueza interior grandiosa tinha vaidade precisamente apenas neste ponto, o brio profissional, pois era detentor de inteligência reconhecida e de um poder de criatividade ímpar, o que lhe permitia solucionar problemas ou, a título exemplificativo, desenhar, com precisão, a planta da refinaria da empresa de refinação de óleos e azeites onde laborou (antiga Prazol), vários anos depois desta ter cessado funções. Casado, sem filhos, ficou viúvo aos 47 anos de idade. O amor às crianças foi por ele sempre manifestado e não faltavam afilhados ou sobrinhos que não fizessem a alegria daquele lar.
2. A segunda parte da sua caminhada na vida é aquela em que eu e minha mãe nos incluímos. Aos 48 anos foi Pai ao lado de uma nova esposa que lhe dedicou todo o seu Amor e companheirismo durante 45 anos. Ainda houve muito para conhecer nas viagens feitas a três. A alegria foi desmedida e teve a possibilidade de ver a sua filha formada, acompanhando-a nas variadíssimas viagens de deslocação para a escola, casada, aconselhou os netos, conviveu com os amigos e abraçou a escrita numa idade já avançada, o que deixa antever o seu espírito de curiosidade e iniciativa que gostava de fazer marcar: “Eu sempre fui muito curioso”, dizia. A par desta peculiaridade, registe-se o seu gosto em ler e escrever que pôs ao serviço da sociedade, pois era seu intento natural a procura do bem-estar do outro. Era com satisfação que o via empenhado, a partir desta idade, na defesa da causa pública e falando amiúde com o responsável máximo da nossa cidade, o presidente da Câmara a quem meu Pai atribuía distintas capacidades pessoais e de gestão – o Ex.º Sr. Joaquim Morão. A própria Câmara Municipal registava as suas observações e correspondia-lhes, contactando-o ou convidando-o para eventos, os quais recusava, a maior parte das vezes, devido à sua dificuldade auditiva.  Em suma, a história de uma pessoa que primou por fazer uso da palavra Respeito, que evidenciou um extraordinário poder de organização, método e controlo da sua vida. Homem de ideias muito bem definidas e, claro, possuidor de um inegável sentido de entrega e altruísmo. 
O seu percurso deixa-me estas linhas de conduta, sendo a persistência, a tenacidade e a clarividência os grandes motores da sua vida e aos quais devemos recorrer, porque vale sempre a pena tentar e não desistir em momento algum. Razão e coração unidos simbolizam-no.
Há algo que me reconforta verdadeiramente: um dia irei ter com este homem inteligente, sensível, amigo e protetor e sei que estará, como de costume, a proteger-me incondicionalmente, tal como São Miguel, santo ao qual o sentido protetor e de afastamento do mal surgem associados (dia religioso de 29 de setembro).
Um grande beijo de Amor a meu Pai Rodrigo Lopes Alho a quem dedico esta crónica que certamente é do seu agrado.

 

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