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Geopark: Estudo revela oceano que deu lugar a Penha Garcia

Reconquista - 31/08/2020 - 14:00

Penha Garcia já é reconhecida pela UNESCO como geomonumento, mas o estudo da sua formação revela como era há cerca de 500 milhões de anos.

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O estudo é coordenado por Carlos Neto de Carvalho

Um novo estudo científico revela “com detalhe surpreendente” os elementos que permitiram reconstituir as condições ambientais que existiam em Penha Garcia há cerca de 500 milhões de anos. “Próximo das nascentes do rio Ponsul, abre-se um imponente rasgão na montanha expondo, uma após outra, milhares de camadas de rochas de uma origem muito antiga, com quase 500 milhões de anos, repletas de marcas de vida marinha ancestral”, revela a investigação científica.

O estudo, coordenado pelo geólogo Carlos Neto de Carvalho, coordenador científico do Geopark Naturtejo, contando com a parceria do geólogo iraniano Aram Bayet-Goll, do Instituto de Estudos Avançados de Zanjan, e o apoio do município de Idanha-a-Nova, foi publicado no International Journal of Earth Sciences (Jornal Internacional das Ciências da Terra). A colaboração entre os dois investigadores decorre há seis anos e tem permitido o intercâmbio de conhecimentos e de trabalhos de campo entre Portugal e o Irão. Trabalho minucioso que permitiu, nos últimos três anos, fazer “uma reconstituição detalhada das paisagens existentes na região de Penha Garcia há 470 milhões de anos. Este projeto permitiu ainda desvendar os parâmetros ecológicos que condicionaram o tipo e modo de ocupação dos habitats marinhos que existiram em Penha Garcia, dando origem ao fantástico registo dos fósseis Cruziana, como evidências de alimentação de trilobites gigantes, que tornam o território tão importante do ponto de vista paleontológico”.

Classificado como geomonumento pela UNESCO, inserido no Geopark Naturtejo, o território de Penha Garcia foi-se tornando conhecido “pela sua invulgar beleza natural”, talhada milenarmente nas suas escarpas quartzíticas. São precisamente as camadas de rochas sedimentares que levam os investigadores a concluir que “se formaram durante a abertura de um oceano, num período que foi particularmente importante para a diversificação da vida animal no nosso planeta”.

A dinâmica da terra “levou a que se tenha formado um grande estuário nas proximidades da região que é hoje Penha Garcia, com origem num importante rio que traria sedimentos provenientes do território que hoje corresponde ao nordeste africano e à península arábica”. Após 470 milhões de anos, “estas areias e argilas depositadas nas margens de um oceano, que acabou por fechar pelo movimento das placas tectónicas, constituem hoje as rochas quartzíticas e xistentas tão bem expostas no vale apertado do rio Ponsul”. Mas “estas rochas preservam a estrutura original dos sedimentos, assim como as marcas da intensa atividade biológica que vivia e se alimentava no fundo marinho, permitindo reconstituir habitats, paisagens de ilhas arenosas e episódios de grandes tempestades”.

Este estudo, por ser “tão completo e rico em informação, pode servir de modelo de comparação para outros sítios contemporâneos”, na Península Ibérica ou em França.

Este estudo cruza-se com outro, coordenado por Martim Chichorro, investigador da Universidade Nova de Lisboa, que pretende caracterizar estas regiões de onde provieram as areias que constituem as rochas quartzíticas do vale do Ponsul, a partir do estudo de um mineral – o zircão – que nestas ocorre”.

Estes projetos de investigação científica conferem relevância internacional e captam a atenção de cientistas do mundo inteiro.

O Geopark Naturtejo tem 176 sítios de importância geológica identificados e reconhecidos. Para além do Sinclinal de Penha Garcia, com os seus sítios paleontológicos, e do Monte-ilha de Monsanto, ambos no concelho de Idanha-a-Nova, são de destacar pela sua importância geológica internacional, a Serra do Muradal em Oleiros e o Monumento Natural das Portas de Ródão, que inclui ainda a mina de ouro romana do Conhal do Arneiro e o sítio paleontológico da Foz do Enxarrique, nos concelhos de Vila Velha de Ródão e Nisa”, respetivamente.

 

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