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Idanha: Estudo encontra níveis elevados de pesticida

José Furtado - 15/09/2023 - 8:01

Plataforma Transgénicos Fora salienta que as amostras revelaram concentrações do pesticida “30 vezes mais que o limite legal”. Câmara de Idanha pede estudo alternativo.

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Imagem DR

Um estudo da organização europeia Pesticide Action Network Europe e do grupo dos Verdes / Aliança Livre Europeia no Parlamento Europeu encontrou concentrações muito elevadas do pesticida glifosato numa propriedade do concelho de Idanha-a-Nova. A Plataforma Transgénicos Fora, da qual fazem parte organizações como a Quercus, salienta que as amostras recolhidas nesta bio região revelaram concentrações do pesticida “30 vezes mais que o limite legal”.

De acordo com o mapa divulgado no relatório a que o Reconquista teve acesso as concentrações de glifosato na Herdade da Fonte Insonsa são as mais elevadas encontradas entre as amostras recolhidas nos mais de 20 locais analisados na Europa. Juntando os resultados no glifosato e ácido aminometilfosfônico (AMPA) a propriedade idanhense é a terceira com os mais elevados níveis de concentração, sendo apenas ultrapassada pelo rio Rykolanka na Polónia e a Rambla del Albujón, no sul de Espanha.

As amostras foram recolhidas em 12 países em outubro de 2022 e em Portugal foram escolhidos dois cursos de água: um de pequena dimensão na Herdade da Fonte Insonsa em Idanha-a-Nova e outro no rio Douro. Foram ainda recolhidas amostras na albufeira da barragem do Roxo, no Alentejo.

Os autores do estudo escrevem que os valores elevados detetados em muitas das amostras recolhidas em rios um pouco por toda a Europa e fora da época de aplicação de pesticidas “indicam uma exposição prolongada do ambiente aquático ao glifosato” e que essa exposição representa um risco ambiental, transmissível ao ser humano. A Plataforma Transgénicos Fora, que considera “chocante” as conclusões do estudo, lembra que a Comissão Europeia quer renovar a autorização de uso deste pesticida por mais 15 anos.

O estudo, diz a plataforma, “salienta também a grave lacuna existente na regulamentação de salvaguarda dos nossos recursos hídricos devido à inexistência de um sistema europeu de monitorização das águas superficiais e da falta de valores de referência para o AMPA que, embora seja um produto da degradação do glifosato, é também muito tóxico”.

A Transgénicos Fora diz que estudos recentes “revelam que o glifosato e os produtos à base de glifosato podem ser neurotóxicos e contribuir para o desenvolvimento da doença de Parkinson, de doenças renais, e ainda perturbar o microbioma humano e animal”, sendo ainda associada “a partos espontâneos com duração gestacional reduzida e desenvolvimento anormal dos órgãos reprodutivos dos recém-nascidos”. Esta organização denuncia aquilo que diz se uma contradição das autoridades de Bruxelas, que por um lado propõem a redução de pesticidas para metade até 2030 e por outro estão disponíveis para renovar a utilização do glifosato por mais 15 anos.

“Prevendo-se que esta proposta seja votada em meados de outubro a divulgação deste estudo foi estrategicamente planeada para setembro, pretendendo assim contribuir para a rejeição desta proposta e para a proibição do glifosato na União Europeia”, escreve a plataforma em comunicado.

O Reconquista contactou o Ministério do Ambiente e da Ação Climática que remeteu explicações para a Agência Portuguesa do Ambiente, que por sua vez sugeriu o contacto com a Direção-Geral da Alimentação e Veterinária, que também remeteu para o Ministério da Agricultura (que a tutela), que não respondeu em tempo útil às questões colocadas.

Idanha-a-Nova faz parte desde 2018 da Rede Internacional de Bio-Regiões, que promove a sustentabilidade na gestão do território baseada em práticas agrícolas que rejeitam o uso de pesticidas. Foi a primeira região portuguesa a entrar nesta rede.

AUTARQUIA A Câmara Municipal de Idanha-a-Nova reafirma a sua oposição à utilização de glifosato mas estranha “estes resultados e os critérios escolhidos para selecionar a Herdade da Fonte Insonsa, em Idanha-a-Nova”, questionando até se alguém “acredita que Idanha tem o índice mais elevado de glifosato da Europa”.

Em resposta ao estudo agora conhecido, o município anunciou que encomendou ao CoLAB Food4Sustainability, laboratório colaborativo na área da sustentabilidade ambiental, um estudo “independente e credível” que inclua a monitorização do uso de pesticidas, onde se inclui o glifosato.

Em comunicado o município lembra que em 2018 promoveu um encontro com outras autarquias do país “alertando para o uso do glifosato e apresentando alternativas que passavam por maior monda manual e o uso de produtos biodegradáveis como o Katoun Gold, solução de origem natural” e que no seguimento deste encontro “aderiu à Rede Nacional de Autarquias sem Glifosato, promovida pela Quercus, abdicando da utilização de herbicidas com impactos na saúde pública e no ambiente”, não utilizando desde então glifosato em nenhuma intervenção que seja da sua competência.

“Além do corte regular das ervas daninhas, é aplicado um herbicida biológico nos espaços públicos, como ruas ou jardins”, assegura a autarquia, que acrescenta estar a estimular as mesmas práticas nas freguesias.

O município alega que como Bio-Região “incentiva e apoia os produtores do concelho na transição, seja para o modo de produção biológico devidamente certificado, caracterizado pela não utilização de produtos químicos de síntese, seja para métodos agroecológicos e práticas reconhecidas internacionalmente” e que mesmo os produtores de amêndoa “estão a apostar em boas práticas e em soluções de sustentabilidade ambiental”.

COMENTÁRIOS

JMarques
No ano passado
Idanha-a-Nova, Bio-Região?
"Gato escondido, rabo de fora".
Quanto aos governantes, a falta de vergonha e de decoro, leva-os a jogar o jogo do empurra, tão popular em Portugal.
JE
No ano passado
Força Idanha
Sempre no top ....
ou nao ....