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Leitores: Mário Mesquita (1950-2022): o académico, o jornalista, o político, o cidadão

Jaime Lourenço - 02/06/2022 - 9:39

Enquanto académico, Mário Mesquita foi um pioneiro no campo dos estudos dos media e do jornalismo que marcou gerações de investigadores, bem como as gerações de jornalistas que foram seus alunos em mais de 40 anos de ensino universitário e os jornalistas com que partilhou redacções.

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Mário Mesquita faleceu aos 72 anos no passado dia 27 de Maio. Apesar de não ter uma especial ligação com a região da beira baixa (a que este jornal se dedica), Mário Mesquita foi uma figura incontornável do jornalismo português contemporâneo e um pioneiro no pensamento e reflexão sobre os media e o jornalismo e, por isso, merece aqui esta singela homenagem.

Deixou um percurso marcado por diversos momentos: foi fundador do Partido Socialista, jornalista, professor universitário (papel com o qual as nossas vidas se cruzaram) e, actualmente, ocupava o lugar de vice-presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

Enquanto académico, Mário Mesquita foi um pioneiro no campo dos estudos dos media e do jornalismo que marcou gerações de investigadores, bem como as gerações de jornalistas que foram seus alunos em mais de 40 anos de ensino universitário e os jornalistas com que partilhou redacções. Leccionou em várias instituições de ensino superior e teve um papel fundamental na criação de vários cursos de jornalismo associados a uma obra que é, também ela, uma referência na literatura sobre os media e o jornalismo, da qual “O Quarto Equívoco: o poder dos media na sociedade contemporânea” (editado pela Minerva Coimbra) é o grande exemplar.

Como Ana Sá Lopes destaca no Público, aos 30 anos, Mário Mesquita já era uma “lenda do jornalismo”. Começou ainda estudante a escrever nos diários e semanários da ilha de S. Miguel, de onde é natural, e inicia-se profissionalmente no jornal República antes do 25 de Abril, passa pelo Jornal Novo (1975) e no período pós-revolução chega à direcção do Diário de Notícias, primeiro como director-adjunto (1975-1978) e como director (1978-1986) com apenas 28 anos, e mais tarde director do Diário de Lisboa (1989-1990). Durante um ano (1997-1998) foi Provedor dos Leitores do Diário de Notícias, tendo sido também colunista do Público.

Mas Mário Mesquita sempre teve “A Liberdade por Princípio” (título mais que justo do livro de estudos e homenagens que lhe foi dedicado), pautando-se pela defesa da liberdade, combatendo contra a ditadura na sua juventude e participando na construção do Portugal democrático, nomeadamente enquanto deputado à Assembleia Constituinte, tendo em muito contribuído para a liberdade de imprensa e o pluralismo dos media.

Foi enquanto professor que tive a sorte de o conhecer no mestrado em Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social. Recordo um entusiasmado debate em torno da série Newsroom, bem como as suas palavras de estímulo a propósito da minha tese de doutoramento e do seu interesse em ler os meus trabalhos de investigação que fazia questão de mencionar mesmo que fosse numa caixa de comentários do Facebook. Mas recordo também aquela tarde na Fundação Calouste Gulbenkian em que lhe foi prestada a grande homenagem que lhe foi feita em vida com o lançamento do livro “A Liberdade por Princípio: Estudos e Testemunhos em Homenagem a Mário Mesquita”, editado pela Tinta da China e coordenado por Pedro Marques Gomes, Cláudia Henriques, Tito Cardoso e Cunha e Carlos Riley. Teve a sorte de poder testemunhar em vida o tributo que justamente lhe foi atribuído. Pedro Marques Gomes, amigo e coordenador do livro-homenagem, descreve no Diário de Notícias da melhor forma Mário Mesquita: a “figura ímpar da cultura e da academia portuguesas, uma referência de integridade, um cidadão empenhado, um defensor da ética e do rigor jornalístico, da liberdade”.

Por opção do autor, este texto não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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