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Luís de Camões, 500 anos. O genial monstro da nossa língua

Florentino Beirão - 11/04/2024 - 9:49

Ocorre este ano a data dos 500 anos de Luís de Camões e dos 50 anos da Revolução dos Cravos. Duas efemérides que marcaram a nossa história e que merecem ser recordadas e aprofundadas, ao longo deste ano. Um feliz casamento de datas que sublinham momentos altos da nossa História Pátria. Nunca será demais torna-las vivas recorda-las. Como Sofia disse, a poesia no 24 de Abril saiu à rua e alegrou multidões de portugueses em todo o país.
Se Camões cantou os feitos dos nossos marinheiros, o 24 de Abril ficará como um hino aos nossos capitães que expuseram as suas vidas, para que tivéssemos uma vida, em liberdade plena.
Hoje, convido-vos a revisitarmos o nosso genial poeta que cantou em verso nos Lusíadas a maravilhosa e exaltante viagem de Vasco da Gama para a Índia. Obra publicada em 1572, com privilégio real, quando a Inquisição medrava em Portugal.
Iniciemos esta nossa viagem por situar Luís Vaz de Camões no tempo. O poeta, à falta de sabermos datas certas, terá nascido no ano de 1517 ou em 1524. Tudo leva a crer que é oriundo de uma família pobre, mas fidalga, com raízes na região de Alenquer. Destes tempos, nada mais sabemos.
O certo é que, em 1540, vamos vê-lo já a frequentar a única universidade do país, situada na cidade de Coimbra. Passados dez anos, regressou à cidade de Lisboa. Aqui, reza a sua biografia, levava uma vida boémia, não destoando do que então era habitual entre a irreverente juventude, sempre irrequieta. Daqui resultou ter sido lançado na prisão, em consequência de uma rixa à mão armada, da qual terão resultado efeitos nefastos num criado do paço real, o qual ficou gravemente ferido.
 A facilidade de Luís de Camões em saber manejar armas teria sido por ele adquirida no norte de África, onde perdeu um dos olhos. As diversas pinturas mais antigas que conhecemos do poeta apresentam-no deste modo. Assim se divulgou e popularizou a sua imagem até aos nossos dias. 
Sabemos que no ano de 1553, comprida que estava a sua pena na prisão, acabou por sair dela com a condição de embarcar para as terras do Oriente, há poucos anos alcançadas por Vasco da Gama e seus marinheiros. Para aqui chegarem, tiveram que dobrar o cabo Bojador ou das tormentas. Em terras da Índia, como soldado do Rei, combateu na guerra de corso, à entrada do Mar Vermelho. Daqui seguiria rumo a outras paragens no Oriente, nomeadamente, o exercício um cargo administrativo em Macau, já em terras chinesas. Aqui sofreu um sufrágio na foz do Rio do Mecon. Sempre metido em rixas e calotes, o poeta foi preso novamente pelas numerosas dívidas contraídas e não saldadas. Enquanto se encontrou em terras do Oriente, apesar das suas longas e incómodas viagens nestas paragens, nunca deixou de cultivar as letras, privando em Goa com o grande cientista Garcia da Horta para o qual escreveu uma ode, publicada na 1ª edição do Diálogos dos Simples e Drogas (1563). Não esquecia assim os seus amigos que com ele privavam.
Quatro anos depois, decidiu regressar a Lisboa, mas, mais uma vez, por falta de recursos, só conseguiu aqui chegar, graças a ajuda de um outro amigo Diogo do Couto, em 1569.
Conseguiu publicar os seus Lusíadas em 1572 obtendo pelo poema e pelos serviços prestados no Oriente uma tença de 15.000 réis anuais a qual não conseguiria resgatá-lo da sua miséria.
Veio a falecer em dez de Junho de 1579.
Luís de Camões não só publicou os Lusíadas, mas preparou um volume de obras líricas, sob o título Parnaso Lusitano o qual se perdeu. Foi graças aos seus admiradores que foram publicadas as suas poesias líricas, dispersas, por vários manuscritos. Deixou ainda três autos de estrutura e estilo vicentino.
Segundo A. José Saraiva,” nas poesias líricas de Camões, combinam-se a tradição peninsular com a influência italiana. Pode-se considerar em alguns aspectos uma passagem para o barroco peninsular.
Outra temática de Camões é o desconcerto do mundo, isto é a irracionalidade ou o absurdo do destino individual e da sociedade. Esta temática dá Camões uma modernidade que não se encontra em Petrarca”. 

florentinobeirao@hotmail. com
   

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