Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Medronho: Só uma fileira forte e coesa cria uma cadeia de valor

Reconquista - 30/12/2021 - 8:00

O medronheiro pode influenciar positivamente a organização da paisagem, mas ser também fator de criação de riqueza e fixação de pessoas.

Partilhar:

Evento reuniu especialistas em Proença-a-Nova

O medronheiro e o medronho necessitam de uma fileira forte e estruturada, que inclua todos os intervenientes da cadeia de valor, para que possa definitivamente afirmar-se no contexto regional e nacional como uma aposta de futuro em que vale a pena investir, pois há retorno para os envolvidos.

Esta foi uma das notas dominantes da iniciativa “Conversas à Volta do Medronho”, que se realizou dia 19 de dezembro, integrada na programação do Mercado dos Sabores de Natal, e que contou com a presença de João Lobo, presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, que moderou o debate, o gastrónomo Hélio Loureiro, Carlos Fonseca do ForestWISE – Laboratório Colaborativo para Gestão Integrada da Floresta e do Fogo, o nutricionista, investigador e empresário Rui Lopes, e o engenheiro agrónomo João Dias.

Apesar do valor e potencial, o medronho é ainda muito associado apenas à aguardante. “Sou um apreciador de medronho há muitos anos e há uma dificuldade enorme de o encontrar em fresco nas grandes superfícies, nos supermercados e nas frutarias, e as pessoas desconhecem por completo o seu sabor enquanto fruto, além de que gostavam de o ter, mas não sabem onde o encontrar”, alertou Hélio Loureiro. Sendo um produto facilmente encontrado na Beira Interior, o chef junta à conversa o ingrediente da promoção turística, tendo em conta “a vontade de as pessoas conhecerem Portugal também pela cozinha”.

Do ponto de vista ambiental, Carlos Fonseca apontou a polivalência do medronheiro, espécie arbustiva autóctone, nativa, “muito nossa” e muito resiliente, pois “após a passagem do incêndio, o medronheiro é das primeiras espécies a regenerar”. Existem experiências muito bem-sucedidas de plantações com medronheiro e sobreiro, estando os benefícios mútuos entre as duas espécies a ser estudados na Escola Superior Agrária de Coimbra. “Não conseguiremos diferenciar o uso deste fruto se não houver, de facto, conhecimento associado e, contrariamente àquilo que possamos pensar, há muitas instituições a desenvolverem investigação científica aplicada ao medronho e ao medronheiro”. Na sua perspetiva, esta fileira atravessa um momento crucial que pode posicionar o país como “o grande produtor de medronho a nível mundial”, sendo preciso continuar a dar passos decisivos, como o que foi dado há alguns anos de criar as primeiras plantações ordenadas, num processo dinamizado pelo Pinhal Interior.

Para isso, é necessário apostar na notoriedade do produto, que pode ser utilizado para a produção de aguardente, pode ser consumido em fresco, pode ser utilizado como planta ornamental ou em outros usos que começam agora a despontar, como o pão de medronho desenvolvido por Rui Lopes. “É dos frutos que estudei, das bagas vermelhas, aquele que tem a maior concentração e disponibilidade de compostos bioativos. Quando decidi fazer pão de medronho tinha o objetivo de garantir pelo menos cinco por cento de atividade antioxidante no pão. Hoje estamos com 19,38 por cento”, revela. Para que o pão de medronho possa estar disponível em mais pontos de venda para além de Leiria, Rui Lopes precisava de mais de 30 toneladas de fruto e só conseguiu menos de um terço, o que o leva a incentivar a que mais pessoas invistam na sua plantação.

Para João Dias, está na hora de criar uma cadeia de valor do medronheiro e do medronho, à semelhança do que já foi feito com outras espécies em Portugal, nomeadamente a pera e a maçã, tendo em conta a mitigação das alterações climáticas e a sustentabilidade de longo prazo, relacionada com os mosaicos florestais e uma floresta mais biodiversa. Para ser fator de fixação de gente no território é preciso “retirar rentabilidade da produção, com a criação direta de emprego. Considerando outros produtos endógenos, como os cogumelos, o mel, a cereja ou o limão, o medronho é o que nos pode dar frutos mais rápido”.

Ideia corroborada por João Lobo, que alertou que “onde não produzimos riqueza, as pessoas abandonam o território”. Para o autarca esta pode ser uma aposta de futuro, incluindo nos terrenos que estão a ser intervencionados nas faixas de proteção dos aglomerados populacionais. Face à falta de mão-de-obra para a colheita, um processo manual, é necessário criar condições para a fixação de trabalhadores, numa primeira fase de forma sazonal, recorrendo à imigração sempre que o mercado interno não der resposta. Pela urgência de dar músculo a esta fileira, João Lobo irá agendar no início do ano uma reunião com interlocutores do setor, incluindo a Cooperativa do Medronho, para criar nova dinâmica e o medronheiro tenha impactos positivos neste território.

COMENTÁRIOS

JMarques
à muito tempo atrás
Descobertas:
1ª - A roda;
2ª - A pólvora;
3ª - O eucalipto;
Agora - O Medonho.