O ritual da abertura do novo ano letivo, após dois conturbados anos de uma maldita pandemia, tem decorrido apesar de tudo em ambiente de alguma normalidade, com a habitual azáfama, acompanhada de algum nervosismo de pais e alunos. O receio do desconhecido como é normal, atinge toda a comunidade educativa temendo que neste novo ano letivo se repitam as agruras dos dois anteriores, de má memória. Agora, com a recente vacinação de quase todos os alunos, professores e auxiliares da educação, o ambiente de confiança tornou-se certamente, motivo de uma menor preocupação. Com algumas cautelas básicas, os alunos já podem desfrutar finalmente da companhia dos amigos e colegas, após um prolongado jejum que os confinou em suas casas, ligados sobretudo pelo omnipresente e absorvente telemóvel e internet.
Apesar deste clima de maior descontração, pela voz do Ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues, ficámos a saber que “nunca foi tão difícil abrir um ano letivo”.
Donde virão então as maiores dificuldades a que se refere o Ministro da Educação?
Em primeiro lugar, o Ministro que tem certamente um global conhecimento dos problemas do setor, tem consciência de que este terceiro ano de pandemia ainda latente, se apresenta com um certo grau de incerteza, embora a caminho da desejada normalidade. Como nos advertem os cientistas, o vírus ainda não se encontra totalmente derrotado. Outras variantes podem vir a surgir para de novo, baralharem as nossas esperanças. Como também nos adverte o presidente da Associação Nacional de dirigentes escolares Manuel Pereira, “há escolas onde nem sequer é possível abrir as janelas”. A este propósito, a Direção-Geral de Saúde (DGS) tem informado todas as escolas para que privilegiem a renovação do ar das salas de aula “preferencialmente, com ventilação natural”. Nesta situação se encontram centenas de infraestruturas construídas e geridas pelo Parque Escolar, no final da primeira década do milénio.
Por outro lado, não se podem apagar ou esquecer os dois anos passados em que as aprendizagens não se puderem realizar com a devida qualidade pedagógica. Como se sabe, os programas não puderem ser concluídos, por falta de condições suficientes. E, como dizem os peritos “em educação, quando não se avança, recua-se”. Por isso, muitos alunos têm de ser ajudados a recuperar o tempo perdido devido à pandemia.
Face a esta nova realidade, não se pode ensinar novas matérias sem se consolidar o que devia ter sido ensinado nos anos anteriores. Por isso, cuidados redobrados são necessários, para não prejudicar os alunos, devido às anteriores dificuldades. Para tal, as comunidades educativas terão necessariamente de promover experiências educativas de comunicação, de cooperação e de entreajuda, investindo no trabalho de uma equipa de docentes, destacada para promover estas urgentes e complexas tarefas. As profundas desigualdades que possam existir nas aprendizagens anteriores devem ser avaliadas e tratadas com toda a atenção com Planos de Recuperação, para que nenhum aluno fique para trás. Os mais pobres e negligenciados não podem ser esquecidos se queremos uma escola verdadeiramente democrática e justa, com ensino igual para todos.
Não se pode dar atenção preferencial apenas aqueles que sempre se salvam, devido à ajuda dos conhecimentos dos seus pais ou em explicações dispendiosas, enquanto a maioria dos alunos vai ficando alheada, marginalizada, agarrada aos seus jogos na internet e nos telemóveis, indisciplinados e ausentes na sala de aula, onde se tornam apenas num número, alheios às aprendizagens. O professor não pode fechar os olhos, fingindo que não sabe destas situações de precoce abandono dos alunos que vão ficando para trás, sem perspetivas positivas e motivadoras em relação ao seu futuro.
Por isso, não se podem esquecer e abandonar muitos milhares de alunos que vegetam nas salas de aula, completamente desinteressados.
Embora o abandono e o insucesso escolares tenham diminuído significativamente no país nos últimos anos, ainda deixamos para trás 10% de alunos, sem concluírem a escolaridade de 12 anos, e cerca de 30% que reprovam antes de concluir o 9º ano.
Após dois anos de tantos escolhos, não podemos voltar ao normal, como se nada se tenha passado. O processo de ensino aprendizagem não poderá deixar um só aluno para trás, seja sob que pretexto for. Este o grande desafio que se coloca a cada comunidade escolar quer se encontre situada no interior ou no litoral do país. Um Bom Novo Ano Escolar.
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