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Pais em tempo de crises: Autoridade e benevolência

Mário Freire - 16/09/2021 - 10:29

Cuidar da criança, mas estabelecer-lhe limites; protegê-la, mas promover-lhe a autonomia, eis um equilíbrio que se coloca aos pais, na sua relação com os filhos. Este tema foi abordado num artigo intitulado “Autoridade e benevolência, valores em tensão” do jornalista Hugo Albandea, na revista “Sciences Humaines”, em que estima que 85% dos pais franceses têm por divisa “nada de se ser severo”. Será que a autoridade dos pais em relação aos filhos está em risco? Será que a geração actual dos filhos respeita menos os pais do que a geração que a antecedeu? 
É certo que aquele “modelo vertical” da educação (“eu mando, tu obedeces”) já não serve, perante o aparecimento de novos modelos educacionais fundados na benevolência, na empatia, no respeito das emoções da criança e adolescente. Esta modificação tem por base o fim dos estados totalitários que abundavam em muitas sociedades e que, com o advento e difusão das democracias liberais na segunda metade do século XX, se assistiu a uma profunda mudança nas mentalidades ocidentais. As formas despóticas de autoridade passaram a ser profundamente rejeitadas. Os ideais de igualdade, liberdade, consentimento informado são amplamente difundidos por todas as áreas da sociedade: família, escola, trabalho, família, saúde… 
Surge, então, o conceito de “parentalidade positiva” pelo qual a criança não deve ser sujeita a qualquer tipo de violência, seja ela a crítica, a humilhação e a punição, dando-se a esta posição uma legitimidade científica. A criança não é mais o ser obediente e submetido mas uma pessoa livre e emancipada. Recusar-lhe esta condição de benevolência, segundo aquele conceito, poderia ter consequências nefastas no seu desenvolvimento. Os pais ficam confusos com este novo modelo e geram-se incertezas no modo de educar os filhos.  
Jean Chambry, um psiquiatra infantil a favor da parentalidade positiva, alerta contra a permissividade e diz que “a autoridade é essencial para que as crianças se construam. No entanto, devemos tentar dar-lhe um sentido, em particular através do diálogo, que continua a ser um valor central na maioria das famílias.” Claro que em crianças até aos 4-5 anos, os esquemas cognitivos não estando suficientemente amadurecidos, tornam difícil o diálogo. Há, então, que fazer cumprir as normas, sem grandes explicações, mas com muita paciência perante eventuais birras. 
A psicóloga Diana Baumrind estudou o comportamento dos pais a partir de duas atitudes principais: calor humano e controlo. Ela verificou que, de entre os de tipo autoritário até aos que deixam tudo fazer aos filhos, os “pais democráticos” são os que melhor conseguem conciliar aquelas duas atitudes. Estes levam em conta os desejos das crianças e adolescentes, mas não negociam a obediência a certas regras, consideradas fundamentais, recorrendo a sanções, se necessário, por exemplo, proibindo ver determinado programa de televisão. Filhos de pais democráticos são geralmente sociáveis e confiantes. Eles também são autónomos, capazes de controlar melhor as suas emoções, melhores alunos do que crianças com pais autoritários ou permissivos. Tal como em muitos outros sectores da vida, “in medio virtus”. 
freiremr98@gmail.com

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