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Pais em tempos de crises: Escuta-me!

Mário Silva Freire - 07/07/2022 - 9:31

Estava num restaurante a almoçar e eis que chega um casal acompanhado de dois adolescentes, certamente pai, mãe e filhos, um de cada sexo. Sentam-se a uma mesa, vem o empregado com a lista e eles, depois de falarem um pouco entre si, fizeram o pedido do que iriam comer. Quase de imediato, cada um dos quatro puxa pelo seu telemóvel e nele vão passando os dedos ou escrevendo mensagens. Entretanto chegam os pratos pedidos; servem-se, mas só parcialmente os impede de continuarem a utilizar os respectivos telemóveis. 
Recebo, posteriormente, via email, um vídeo muito curto, mas bastante elucidativo do que hoje é a refeição de muitas famílias. Diz-se no vídeo, reproduzindo um excerto de um discurso do Papa Francisco, a propósito do uso do telemóvel: “todos falam, mas falam para fora. Não falam uns com os outros. Todos comunicam, é verdade, mas através do telefone, mas não dialogam. Este é o problema: a falta de diálogo, a falta de escuta…”. Fala-se hoje muito da contradição que existe entre a multiplicidade dos meios que temos para comunicar, que nos põem em contacto, sem barreiras de espaço, e os dramas de isolamento que existem por não haver alguém que escute essas pessoas isoladas, geralmente, idosas. 
Por outro lado, há uma tendência para nos afirmarmos pela palavra. Pensamos que damos aos outros uma impressão desfavorável da nossa personalidade se ouvirmos mais do que falarmos. Ora o que acontece, na generalidade dos casos, é que sentimos mais afeição pelas pessoas que nos ouvem pacientemente e sem pressa do que por aquelas que, falando muito, não nos deixam espaço para nos expressar. Muitas discussões são violentas porque os interlocutores, cônjuges, pais e filhos, sejam eles adolescentes e/ou adultos, colegas de trabalho, não escutam os argumentos um do outro; enquanto esperam a vez de intervir, não ouvem os argumentos do outro mas, antes, constroem a sua própria argumentação.
De entre os vários factores psicológicos que o especialista em comunicação humana Whitaker Penteado identifica para não haver uma boa escuta, destacaria três. Um, seria a “indiferença”, o desinteresse, o olhar para o lado, o estar desmotivado pelo que o outro diz. O outro factor seria a “impaciência”, por sabermos de antemão o que vai dizer o nosso interlocutor, o estarmos com pressa, o termos outros problemas que nos preocupam. Finalmente, destacaria o “preconceito”, o estarmos a ouvir determinado discurso e irmos tomando, simultaneamente, posições, fazendo julgamentos que nos impedem de uma boa escuta. A mensagem que recebemos está a ser filtrada pelas ideias que temos, quer do interlocutor, quer do assunto em discussão. 
Saber escutar, mais do que saber falar, é uma condição para dialogar. 
freiremr98@gmail.com

 

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