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Pais em Tempos de crises: Um mau cônjuge pode ser um bom pai?

Mário Freire - 10/05/2018 - 9:24

Na altura em que escrevo esta crónica está em exibição, em Lisboa, um filme, “Custódia Partilhada”, de 2017, do realizador francês Xavier Legrand. Este filme, já com vários prémios, ilustra algumas das violências que podem atingir um lar quando, numa separação conjugal, não são devidamente acautelados todos os factores que a ela deram origem. 
No filme pode assistir-se à luta entre os ex-cônjuges que, a seguir a uma separação conflituosa, lutam judicialmente pela custódia do filho mais novo, de 11 anos. De modo a garantir a segurança deste, e existindo já um historial de violência por parte do pai, a mãe da criança pede a sua custódia total. Acontece que o ex-marido não aceita este pedido. Apesar dos argumentos da mãe e do conteúdo de uma carta dirigida à juíza em que a criança explica os motivos de não querer ficar aos cuidados do pai, a magistrada decide a favor deste e opta pela guarda partilhada. O filme desenvolve-se, depois, mostrando os vários comportamentos das três figuras principais envolvidas na história: o pai, a mãe e o filho menor.
O carácter nobre e bom daquele pai, referido pela advogada de defesa, e descrito pelos colegas de caça e de trabalho, contrasta com a violência que ele manifesta para com a mulher, os filhos e, até, para com os seus próprios pais. A caça, desporto que ele pratica, é aquela actividade que ele, após a separação, tenta fazer em relação à ex-mulher, perseguindo-a, intimidando-a, violentando-a física e psicologicamente. Vitimiza-se para alcançar os seus objectivos; utiliza o seu filho menor como arma de arremesso contra a ex-mulher; tem um ciúme doentio em relação a esta, como se ela fosse algo que lhe pertencesse.
Encontram-se neste filme vários aspectos já referidos nesta coluna, como a alienação parental (manipulação, por parte de um dos progenitores, de um filho contra o outro progenitor), o stalking (o assédio persistente, a perseguição, a ameaça), a violência física e psicológica do pai e ex-marido sobre o filho e a ex-mulher. Ora, no filme, muitos desses aspectos, já vividos em situações anteriores, não foram devidamente considerados pela juíza; e tal sentença quase originou o assassínio da mãe da criança e do seu próprio filho. Um sério aviso para aqueles que, judicialmente, determinam a vida de uma criança, quando os seus pais se separam em litígio! Interrogo-me, à semelhança do crítico de cinema Bernardo Vaz de Castro, ao fazer a apreciação deste filme: um mau cônjuge pode ser um bom pai? 
freiremr98@gmail.com

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