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Portugal à deriva: A infindável linha imaginária

Abílio de Jesus Chaves - 22/09/2016 - 11:22

Esfuma-se na bruma do tempo a origem de uma linha imaginária existente em Portugal, que divide a nossa sociedade em duas partes bem distintas.

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Esfuma-se na bruma do tempo a origem de uma linha imaginária existente em Portugal, que divide a nossa sociedade em duas partes bem distintas. Ninguém a vê como é natural, mas todos a sentem, ela arrasta-se indelevelmente e com vários ingredientes. Onde melhor a podemos procurar é no reinado de D. João V. por lá se ter definido com toda a clareza, cujo reinado possuía recursos económicos avultados conseguidos com a vinda do ouro e pedras preciosas do Brasil e especiarias da India e África. Nessa altura, existiam três ordens em concreto: de um lado da linha encontravam-se a nobreza e o clero, no outro lado, o povo. A nobreza desfrutava de grande prestígio e importância social. Possuía grandes propriedades, das quais, recebia rendas. Estava isenta de pagar impostos á coroa. Ocupava cargos políticos, administrativos e militares. Tinha direitos e deveres. O clero praticava o culto religioso, o ensino e dava assistência a enfermos e pobres, regia-se por leis próprias (Direito Canónico) e também era isento de impostos, o Alto Clero, também possuía grandes propriedades. 
A terceira ordem do outro lado da linha, encontrava-se o povo, a grande maioria da população, sujeito a obrigações e deveres, não tinha direitos, vivia apenas do rendimento do seu trabalho e ao contrário das outras duas ordens pagava impostos. Dentro deste, havia um extracto social com importância económica que se distanciava do povo comum: a burguesia. A mais rica, chegava a financiar a coroa. Como recompensa, o rei deu-lhe o título de nobreza de toga. Nada tem que ver com a outra nobreza que era por descendência. D. João V. como já se disse, era um monarca com muito dinheiro, em vez de desenvolver o país e melhorar o estado de saúde do povo que era problemático naquele tempo. Não o fez. Como estava em curso na Europa o desenvolvimento da arte barroca, não quis ficar atrás. Mandou construir o Palácio Nacional de Mafra, o Aqueduto das Águas Livres, este pago com mais um imposto aplicado ao povo, a Biblioteca da Universidade de Coimbra. 
No norte, mandou construir a Igreja e Torre dos Clérigos, o Palácio do Freixo, o Solar de Mateus, mandou construir ainda mais monumentos,  referido  estes  apenas, por  serem  os  de  maior  visibilidade.  Também gastou muito dinheiro em festas que duravam semanas. D José I que veio a seguir, teve que se haver com o terramoto de 1755 e com falta de recursos, nomeou para seu  Primeiro Ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal). Este, no intuito de arranjar recursos económicos, adoptou uma política mais centralista e cortou nos privilégios, como corolário deste fator, foi o desencanto com a nobreza e o clero, senhores de tudo e de todos, para os acalmar, teve que fazer uso de medidas radicais. Este intróito advém nesta altura, para comprovar como é difícil aos governos terem força e coragem para fazer as reformas que se impõem, especialmente quando mexem com os interesses da classe política e outros estabelecidos. Portugal anda á deriva e encontra-se á beira do abismo, prestes a abrir brechas nos mais variados capítulos da sua sociedade e administração. Uma vez que fecharam as portas há consciência e desprezaram o preceito evangélico. “ Amemo-nos uns aos outros e não faças aquilo que não queremos que nos façam.” Pois, no capítulo de privilégios e mentalidades são semelhantes a outrora ou piores, já naquela altura os hábitos existentes foram bem orientados e melhor trabalhados para serem integrados nos espíritos do povo, o combustível para a sua passividade e de modo a tornarem-se imperativos. Tendo como filha pródiga a burguesia, aí muito activa, que saiu do seu ceio para o tramar, não admite que ninguém lhe mexa, mas muito complacente em relação à corrupção, degradação humana, ambição, intrigas abjectas, invejas, etc. etc.. É o peso de ideologias semelhantes ás do passado com os seus privilégios a causa fracturante desta Nação e do seu povo, que com toda a sua dolorosa experiência não sai daquele secular torpor que o agita e esmaga. Como ninguém larga privilégios por sua livre vontade, eles vão continuar, por isso, a canga está para durar. Mais emigrações vão surgir para a completa desagregação das famílias. Tudo isto faz parte da ensinança metódica e persistente. Já há muito que me encheram o saco.                                    

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