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Recordar o antes do 25 de Abril: Um país amordaçado e pobre

Florentino Beirão - 24/04/2024 - 9:31

Nos últimos dias, um pouco por todo o país, tem-se comemorado os 50 anos do 25 de Abril de 1974. Palestras, jornais e revistas têm-se multiplicado em múltiplas iniciativas, para assinalar esta memorável e inesquecível data. Portugal, segundo a grande poetisa Sophia Breyner, esta data, como deixou escrito no seu poema “ este foi o dia em que emergimos da noite e do silêncio/E livres habitamos a substância do tempo”.
Só que, quanto a nós, uma boa maneira de comemorarmos esta data é tentar recordar como era o nosso país antes da Revolução dos Cravos, durante as décadas de ditadura. As gerações mais novas – e já são muitos portugueses - desconhece como se vivia em Portugal, antes da revolução do 25 de Abril de 1974. Por esta razão, pode-se não valorizar o suficiente esta inesquecível data que nos trouxe a liberdade e a democracia.
Colocando um ponto final na guerra colonial, os militares de Abril, cansados de matar e de serem mortos, conspiraram para derrubar o regime Estado Novo, agora nas mãos de Marcelo Caetano, após a morte de Salazar, que governou o nosso país cerca de 40 anos.
Portugal, durante estes anos, viveu no mais completo isolamento internacional, devido à política colonial do ultramar, onde morreram milhares de portugueses, obrigados a irem combater para a Guiné, Angola e em Moçambique. A nossa juventude, nos anos que durou a guerra, ou fugiu para outros países ou foram obrigados a combater nas nossas colónias. 
Jovens que tinham vivido a sua infância de pé descalço e a trabalhar no duro, alguns anos após terem saído da escola primária, eram formatados nos quartéis à pressa e, sem conhecerem nada das colónias, eram para ali enviados, como carne para canhão. Muitos milhares lá deixaram as suas vidas e numerosos jovens vieram para suas casas com limitações físicas de toda a ordem.
O Estado Novo apoiava-se na temível e sinistra PIDE, polícia do Estado, para vigiar os inimigos do regime ditatorial, encerrando-os em cadeias - os presos políticos - após lhes fazerem a vida negra, com cruéis castigos corporais e psíquicos.
O país ao longo de décadas, viveu sobretudo de uma agricultura pobre e familiar. A miséria dos campos, onde se vegetava, não permitia uma vida decente. A alternativa foi uma emigração em massa, tendo atingido em 1973, um ano antes da Revolução dos Cravos 120.019 emigrantes. A partir dos anos sessenta do século passado, por entre perigos e grandes sacrifícios, através dos denominados “passadores” ia-se a “assalto”, por esses campos fora, a caminho de França. Em Portugal, de um modo geral, ficavam as esposas e os numerosos filhos à espera de algum apoio monetário, para se sustentarem. 
Nas escolas primárias, predominava a “reguada” onde se apoiavam os professores e as regentes escolares, para ensinarem as primeiras letras aos seus numerosos alunos, sem cuidados de higiene e com fome. A nível da instrução, em 1991, 44% das pessoas tinham só o ensino básico e apenas 5% eram licenciados.
Outro dos instrumentos de que serviu o Estado Novo de Salazar, para se consolidar no poder, foi ter criado um eficaz aparelho repressivo. Através dele, todos os órgãos da comunicação, espectáculos, teatros, livros eram submetidos à censura prévia, para serem escrutinados pelos rigorosos e arbitrários censores que os podiam apreender.
 Nas prisões, os presos políticos eram torturados barbaramente nas masmorras pela PIDE, a fim de tentarem arrancar algumas informações, para atingirem outros camaradas.
Quanto à família, nos anos do Estado Novo, o divórcio era proibido nos casamentos católicos e as esposas tinham de obter uma permissão expressa do marido, para se ausentarem do país.
Os namoros eram vigiados, sobretudo pelas mães das jovens namoradas ou às escondidas, vigiados pela sociedade controladora. Aliás, o papel da mulher na sociedade daquele tempo, estava formatada para desempenhar o lugar de dona de casa tratar da educação dos seus numerosos filhos e também do marido. Ultraconservador, o regime deixou um país sem perspectivas de futuro, com gente sem estudos, rural, oprimido.
Neste tempo, em que a liberdade e a democracia vive momentos de ataques constantes de algumas forças sociais e políticas, comemorar hoje o 25 de Abril é mesmo importante e fundamental para que um dia não sintamos saudades daquilo que só damos pela falta, quando já não a temos.

florentinobeirao@hotmail.com 

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