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Recuso-me a alimentar a besta!

João Morgado - 11/08/2016 - 9:55

Um terrorista matou 87 pessoas num atentado. Nada tinha contra elas em particular, foram apenas matéria de uma campanha de comunicação para todo o mundo.

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Um terrorista matou 87 pessoas num atentado. Nada tinha contra elas em particular, foram apenas matéria de uma campanha de comunicação para todo o mundo. Uma campanha com uma mensagem clara: Temei-nos!
Um homem, um camião, apenas isto. E tiveram uma campanha global imensa. A mensagem “Temei-nos” chegou a todo o mundo. Repito, um homem e um camião, apenas isto. O resto fomos nós que o fizemos.
As televisões perpassaram as imagens uma e outra vez, uma e outra vez, incessantemente, até à exaustão. Os jornais encheram-se de sangue. As redes sociais partilharam morte e morte, medo e medo e medo.
Se a mensagem era clara, “Temei-nos!”. A mensagem chegou. Eles, quem quer que sejam, estão contentes. Sentados em frente a um qualquer televisor, a ver o seu trabalho repetido, repetido, repetido, repetido, até à exaustão – deve ser glorioso. Sentados a ouvir um qualquer comentador assustado, a ler um qualquer jornal que fala neste horror e – num afã de profissionalismo - aproveita para falar dos atentados anterior, julgando talvez, que este não tem sangue que chegue para uma edição. Sentados a ver um sem-fim de partilhas do terror no facebook, no twitter…
Eles, quem quer que sejam, acreditem, estão contentes. Agradecem-nos.
Eles, quem quer que sejam, estão em êxtase e, é tal o prazer que lhes causamos, que vão voltar ao terreno para mais um atentado, e outro, e outro, e outro… e o mundo cá estará para os masturbar uma e outra vez, em tudo o que é comunicação. Eles agradecem consolados.
Eu por mim, quero que me informem. Que me informem, basta. Não quero a baba dos mortos a escorrer-me no ecrã da televisão, no computador, no telemóvel, não quero os meus filhos a gritar com medo. Que me informem, basta. Que me informem do essencial. Não quero nem saber o nome do terrorista, nem ver-lhe a cara, pois isso só serve para alimentar altares aos mártires do mal.
Recuso-me a colocar imagens do atentado de quinta-feira, recuso-me a publicitar um hediondo acto, recuso-me a alimentar o medo e o pânico, recuso-me... a colaborar com os terroristas e ampliar o efeito do seu abominável atentado. Recuso-me!! Recuso-me a ver/ler/ouvir todos os meios de comunicação que, sem critérios válidos de edição informativa, se tornaram colaboracionista do terror e dos seus mártires. Recuso-me!
Está na hora de haver critério internacionais para lidar com estas situações, está na hora de as entidades reguladores terem uma palavra, está na hora de imperar o bom senso.
O mundo só pede que o informem, e isso basta. Não precisa que alimentem a besta!

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