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Semana Santa: Idanha-a-Nova recorda tradições que levam "religiosidade de um povo" às ruas

Ecclesia - 27/03/2021 - 22:21

Comunidades católicas vivem com tristeza limitações impostas pela pandemia

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Procissão dos Homens do Ladoeiro é uma das tradições do concelho. Foto Luís Tavares/ Arquivo Reconquista

O padre Martinho Mendonça, pároco no concelho de Idanha-a-Nova, disse à Agência Ecclesia que as tradições quaresmais são expressões da “religiosidade de um povo” que levam a fé às ruas, lamentando as limitações impostas pela pandemia.

“As tradições quaresmais marcam a história e a vida das comunidades cristãs ao longo da história e são polos agregadores”, disse o padre Martinho Mendonça, da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, em entrevista que é emitida este domingo, no Programa ‘70×7’ (RTP2, 17h30).

O cancelamento das procissões e manifestações quaresmais “entristece as pessoas e é uma perda muito grande” para as comunidades, frisou.

Na Beira Baixa, as tradições pascais ganham uma expressão mais visível no seu tom celebrativo e orante, conjugada com os ritmos litúrgicos e com os episódios da Paixão que antecedem a Páscoa.

Antes da pandemia, que impediu as manifestações públicas nos dois últimos anos, as noites da Quaresma eram tempo para fazer a ‘Encomendação das Almas’ e outras tradições de Idanha-a-Nova.

“O forte destas tradições é não terem tanto um cariz institucional, mas manifestações da vida das pessoas, do povo simples”, disse o padre Martinho Mendonça.

O povo orante quebra o silêncio da noite nestas aldeias históricas,  preenchidas por uma sensibilidade peculiar para sentir a transcendência.

“Estas tradições movem o povo, só assim conseguem viver com alegria o Domingo de Páscoa”, sublinhou o padre Miguel Coelho, pároco da zona pastoral de Alcains.

O cariz popular está patente “nas ladainhas, no cantar das almas e nos martírios”, mas quer a letra das músicas, quer o estilo do canto, são “adequados aos tempos em que se vive a Quaresma”, precisou o sacerdote.

Esta recriação, possível pelo interesse da Associação Alma Escaleira e pelo Rancho Folclórico da Escalos de Cima, mostra esse cuidado dos vivos pelos antepassados.

A memória dos que partiram “regressa mais forte” por estes dias em que se assinalam “mistérios que tocam a morte e a vida”, disse Agostinho Belo, morador em Alcains.

“A povoação dividia-se em zonas, para apanhar as pessoas de surpresa quando se ia a cantar”, frisou.

O presidente do Rancho Folclórico de Escalos de Cima, Miguel Rijo, recorda que há cem anos a localidade não tinha eletricidade e as pessoas “tinham medo de ver as almas penadas andar atrás”

A instituição decidiu registar todas as tradições que tinham na aldeia e recuperaram “muitas tradições”.

Uma teologia popular que e brota da vulnerabilidade de homens e mulheres dependentes do que a terra dá.

Apesar deste ano não ser possível a realização destas manifestações, “há toda uma geração nascida destas tradições determinada em perpetuá-las”, acrescentou Miguel Rijo.

 

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