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Temos o direito de nascer bem e em segurança, como beirões: Mais um desafio à nossa saúde?

J.Castel-Branco da Silveira - 06/10/2016 - 9:46

Cuidados de saúde, em tempo útil e de qualidade, foi e será sempre, preocupação maior, especialmente em comunidades dispersas, isoladas, com territórios extensos e difícil acesso.

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Cuidados de saúde, em tempo útil e de qualidade, foi e será sempre, preocupação maior, especialmente em comunidades dispersas, isoladas, com territórios extensos e difícil acesso. Entre nós, fronteira raiana, critérios de densidade populacional, justificaram propostas de organização de rede hospitalar que nos colocavam na dependência do litoral, e os cuidados elementares de proximidade veem, progressivamente, a esvair-se. Posições isoladas, tendentes a colmatar o mais elementar apoio de proximidade, fora do contexto do sistema nacional de saúde, podem valer votos, mas não resolvem a questão: a “interioridade” como já se reconhece, mais que geográfica é uma questão politica. Tem custos acrescidos, mas a coesão territorial e solidariedade social são imperativos nacionais, atenuando assimetrias que comprometem valores de justiça e dignidade.
A melhoria clara de índices de mortalidade infantil e materna, desde anos 90, e, mais recentemente, da mortalidade aos 70 anos, bem como expectativa de vida, com qualidade, a partir dos 65, a par de outras taxas e metas no todo nacional, significam “ganhos” em Saúde de enorme qualidade…mas a custos crescentes, em percentagem do PIB, e brutal, na percentagem que às famílias cabe!
O envelhecimento populacional, a cronicidade da patologia associada ao idoso, a tendência à “urbanização”, muito especialmente no dito interior, a par da inevitável inovação instrumental e medicamentosa, sempre a preços maiores, agravam custos e não auguram melhor futuro às regiões fronteiriças…antes pelo contrário!
Alterar hábito de usar os hospitais como porta de entrada, que por cá, diga-se, são porta única, por inexistência de “privados”, será difícil, mas inevitável: há sempre que racionalizar recursos, criar sinergias institucionais, evitar sobreposição de prestadores…e fazer contas! A decisão será política, mas os custos totais, directos e invisíveis, se corretamente analisados, irão justificá-los: porque não decalcar outros sistemas de saúde que não o inglês, dentro da europa comunitária? Ouçam os nossos emigrantes…
Temas que, repetidamente, e já ao longo de muitos anos, enquanto profissional, e também como gestor que fui, venho abordando, faço-o agora com preocupação crescente, e noção de oportunidade a não perder: excelentes documentos, saídos do ministério da tutela e Direção Geral da Saúde (DGS), o justificam! 
Merecem a maior atenção de todos, como obrigação de cidadania e, mais ainda, de quantos detenham responsabilidades políticas, autárquicas, sociais ou económicas, sendo uma importante pedrada no charco lodoso de propostas anos atrás: são eles, seguindo recomendações da OMS e outras entidades, o “Plano Nacional da Saúde em números-2015: Revisão e Extensão a 2020” e “Nova Ambição para a Saúde Pública, focada em serviços locais”, ambos da DGS, e acessíveis na net, em portal da saúde, desde o corrente mês de setembro.
Seria lastimável que, face a estas disposições legislativas, outros poderes, de qualquer índole, corporativa, económica ou financeira, teimasse em propostas com base em estudos populacionais, que venham a castrar o fundamental estancamento da desertificação do interior raiano, carente de medidas motivadoras ao desenvolvimento económico e social, nos termos, precisamente, dos documentos agora facultados! Não podemos ir nascer a Vila Real ou Évora, como proposta de 2014…temos o direito de ser ouvidos e de nascer bem e em segurança e, como beirões, na maternidade dos nossos pais!
Há que saber ultrapassar populismos e bairrismos, que tanto já prejudicaram as nossas gentes, em diálogo criativo e multiplicador dos valores que temos. E acreditar que todo o tipo de alianças, onde quer que surjam, e mais prejudiquem a já chocante assimetria regional do centro, onde nos incluíram, jamais acontecerão.
Acreditamos que a actual comissão para a reforma dos cuidados hospitalares, a terceira da actual tutela, imagine-se, e, desta vez com a liderança de Coimbra, bem oomo a Unidade de Missão para a Valorização do Interior, entendam o nosso querer, e atentem às determinantes dos documentos da tutela agora publicados, não compagináveis com mais estudos de base populacional…Não é possível ter tudo à mão, nem ao virar da esquina, luxo inexistente em qualquer local, mas convenhamos: o elementar e básico, é fulcral para fixação de pessoas e empresas.
Sem acessos atempados e de qualidade em Saúde, de proximidade e hospitalar, não haverá estímulo ou discriminação positiva que bastem!


(Chefe Serviço Carreira Hospitalar pelo HSM-1983 e ex-docente da FMLisboa, eleito Senado Universidade Clássica; Especialista do quadro orgânico, do HSM em Medecina Interna (1978) e Gastrenterologia (por opção-1979); ex-director serviço gastrenterologia do HAL (1984-94) e director do HAL (1994-1997); ex-presidente do Conselho Consultivo da ULSCBranco (2011-2013)).

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