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Leitores: Ainda há oportunidades? Turismo pode e deve ser uma oportunidade no «novo normal» para o interior

Telma Catarina Gonçalves - 22/10/2020 - 9:35

Desde 1980 que se assinala, a 27 de setembro, o dia mundial do turismo, tamanha é a importância desta atividade no mundo e, em especial, no melhor destino turístico do mundo, Portugal.

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Desde 1980 que se assinala, a 27 de setembro, o dia mundial do turismo, tamanha é a importância desta atividade no mundo e, em especial, no melhor destino turístico do mundo, Portugal. Nos últimos anos habituámo-nos a olhar para o turismo como o motor do crescimento económico e do emprego, uma chave inglesa que podia ser ajustada para reparar fragilidades na economia, um reduto para investimentos. A procura crescia em quantidade e em valor e a oferta correspondia em número e em qualidade. Tudo parecia estar a correr bem. E estava. Mas um cisne negro – acontecimento inesperado, imprevisível e demolidor – teimou em aparecer em forma de pandemia. Como pequena economia aberta que somos ressentimo-nos e o turismo, a nossa maior atividade exportadora, sufocou. Menos viagens, menos turistas estrangeiros e o apelo para que nós, portugueses, (re) descobríssemos o País. Nós podíamos. Curiosamente, o turismo no interior nunca teve tanta procura. As praias fluviais, as nossas aldeias, os museus e o património que ficam mais para o interior estavam na lista das preferências. 
Há uma importante conclusão a reter: mesmo em tempos de pandemia o interior pode afirmar-se nesta atividade. A relevância do turismo para o interior e do interior para o turismo está bem presente na Estratégia Turismo 2027, plano que combina uma visão de longo prazo com ação no curto prazo e que foi produto de uma discussão pública alargada que abrangeu, inclusivamente, a sociedade civil. O turismo é visto como um fator de coesão territorial e o interior como destino para desconcentrar a procura dos grandes «centros turísticos». Mesmo em tempos de pandemia continua o gosto e a procura por experiências, pela autenticidade, pela descoberta da História e das estórias, de personagens e tradições, que temos quanto baste. Há, portanto, substância. Mas falta dar-lhe forma e saber comunicá-la; puxar pela criatividade e pela tecnologia para proporcionar as tão desejadas experiências únicas.
Há uma procura palpitante que o interior deve saber agarrar e fidelizar. Tal como antes o turista espera profissionalismo e qualidade exímia durante a sua experiência turística que começa no momento do planeamento da viagem e termina no regresso a casa. Por isso, dados os muitos atores com que o turista se cruza na sua viagem, mais que em qualquer outra atividade, no turismo exige-se trabalho de equipa. Uma equipa que abrange restauração, alojamento, agentes de animação turística, guias turísticos e de natureza, monumentos, comércio tradicional, operadores de viagens, de transporte, de desportos radicais, de saúde e bem-estar, programadores culturais. A lista é longa e não fica por aqui. Inclui também as autarquias e os dinamizadores turísticos regionais, que devem procurar promover uma oferta integrada regional, regular, e saber construir pontes. Só assim é possível afinar a engrenagem e fazer do turismo um motor da sustentabilidade e da coesão. Os atores que integram esta indústria são tão distintos e, simultaneamente, tão dependentes, que só podem estreitar laços se cooperarem.
Há tendências na procura das quais o interior pode beneficiar. Opta-se por períodos de férias mais curtos e mais frequentes ao longo do ano e até por estender um pouquinho mais as viagens de trabalho de modo a poder usufruir também de momentos lazer. Acresce que, por força da pandemia, trabalhar fora do escritório, a distância, é cada vez mais natural. É assim possível juntar o útil ao agradável e, em vez de uma escapadinha de fim-de-semana até Castelo Branco, poder prolongar a estada e trabalhar a partir do interior. Porque não?     
Desde criar empregos diretos e indiretos até ser alavanca para os produtos endógenos, são várias e proverbialmente conhecidas as mais-valias do turismo para a economia. Mas o seu papel mobilizador vai mais longe. O turismo é também uma mola para a requalificação urbanística e para a recuperação do património edificado como o provam diferentes cidades. Em Castelo Branco há património que urge recuperar, revitalizar e usufruir. Um exemplo? A zona histórica do castelo é para mim o mais gritante. O turismo é uma atividade que tem o condão de tocar e interagir com vários setores. Não surpreende pois que lhe tenha sido dado destaque no Plano de Recuperação Económica na era pós-COVID. Não são fáceis nem pequenos os desafios que temos pela frente. Exigem coragem para enfrentar um «novo normal» que a breve trecho será o normal e, bem assim, sabedoria e visão para aproveitar oportunidades no interior (do melhor destino turístico do mundo).


Economista
tecatarina@gmail.com

COMENTÁRIOS

JMarques
à muito tempo atrás
À lista de vantagens convém acrescentar o pagamento das portagens nas SCUTS e por exemplo na escapadinha de Lisboa/ C. Branco/Covilhã, prever no respectivo orçamento, logo mais de 30 euros, o que daria quase para o alojamento.
Os nossos antepassados diziam, que "não se devem pôr os ovos todos no mesmo cesto", mas os iluminados estrategas de hoje, acham que se pode viver só do turismo.