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Um albicastrense ilustre: No quarto centenário da morte de Filipe Montalto

Arnel Afonso - 10/03/2016 - 11:24

Passa amanhã o quarto centenário da morte do insigne médico albicastrense, que foi Filipe Montalto.

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Passa amanhã o quarto centenário da morte do insigne médico albicastrense, que foi Filipe Montalto. É mais uma efeméride que cremos passar despercebida, a par de tantas outras, pois não temos conhecimento de qualquer iniciativa que a assinale, São muitos os albicastrenses que ao longo dos tempos elevaram bem alto o nome da terra que os viu nascer, e cuja memória continua incompreensivelmente mergulhada no esquecimento. 
Filipe Rodrigues Montalto nasceu em Castelo Branco, provavelmente em Setembro de 1567, filho de António Aires, boticário, e de Catarina Aires, família judaica, tendo sido baptizado em 6 de Outubro desse ano, na Igreja de Santa Maria do Castelo, sendo, por isso, cristão-novo, foram seus padrinhos Manuel Viegas e Guiomar Henriques. Era sobrinho-neto de Amato Lusitano, por via materna.
Na Universidade de Salamanca, estudou filosofia e medicina, onde se formou em Novembro de 1588. Casou em Castelo Branco, com Jerónima da Fonseca, também ela cristã-nova, filha de Lopo da Fonseca, médico, e de Beatriz Henriques, tendo o casamento sido abençoado com o nascimento de cinco filhos, Rafael, António, Moisés, e dois gémeos, que morreram na infância.
Tremendo a perseguição da Inquisição, saiu do país, no final do século XVI, tendo-se fixado em Livorno, na Itália, cerca de 1598. Filipe Montalto mudou o seu nome para Filotheu Eliau Montalto, usando também, Elias Luna Montalto, a mulher para Raquel da Fonseca e o filho António, para Isaac. Foi médico do Grão Duque Fernando I, de Florença, tio de Maria de Médicis, Rainha da França. Em 1606, Filipe Montalto foi chamado a Paris, certamente por recomendação do Grão Duque, pois que Leonora Galgac, aia de Maria de Médicis, era muito doente. Outros médicos a haviam já tratado, sem resultado, e Filipe Montalto curou-a, obtendo com isso um grande sucesso. A rainha tenta que ele fique como médico da Corte, mas Henrique IV não o permitiu, por Filipe Montalto praticar o judaísmo.
Volta para Itália, e algum tempo depois fixou-se em Veneza, onde publica a obra Optica intra philosophiæ.
Em 16 de Maio de 1610, morreu Henrique IV, sucedendo-lhe seu filho Luís XIII, que contava 9 anos de idade, pelo que Maria de Médicis assume a Regência do Reino, e pouco tempo depois, convidou Filipe Montalto para seu médico pessoal, tendo este aceite com a condição de poder livremente praticar a religião judaica, condição que teve a autorização prévia do Papa Paulo V. No Outono de 1612, Filipe Montalto vai para Paris.
Era um praticante convicto e devotado da religião que professava, constando que não recebia dinheiro aos sábados, quando os doentes necessitavam dos seus préstimos.
Em Novembro de 1615, tiveram lugar em Bordeos, os casamentos reais de Luís XIII com Ana de Austria, filha de Filipe III, de Espanha, e de Isabel de Bourbon com o futuro Filipe IV, de Espanha, Filipe Montalto acompanhou Maria de Médicis, integrando assim a comitiva da Corte. O ano de 1616, iniciou-se com um inverno muito rigoroso, e no regresso a Paris, devido ao muito frio, Filipe Montalto adoeceu, vindo a falecer subitamente em Tours, a 19 de Fevereiro de 1616.
Por determinação expressa de Maria de Médicis, o corpo de Filipe Montalto foi embalsamado e transportado a partir de Nantes para Amsterdão (Holanda), onde se encontra sepultado no cemitério judaico português de Oudekerk.
Gozou de grande reputação e fama, sendo altamente respeitado e considerado pelos seus colegas. Subsiste a dúvida se leccionou nas Universidades de Bolonha, Messina, Pisa, Pádua e Roma, sabe-se, contudo, que o Grão Duque Fernando I, lhe ofereceu a cátedra de Medicina da Universidade de Pisa
Dos livros que escreveu, destaca-se entre eles, Archipathologia, publicado em Lião em 1614, e dedicado a Maria de Médicis. Esta obra, que é a primeira escrita por um médico Português sobre Psiquiatria, leva-o a ser considerado, de certo modo, o precursor da Psiquiatria em Portugal, não obstante ter exercido a medicina fora do país, sendo, também, na opinião de historiadores alemães um dos grandes precursores da psiquiatria, da neurologia e da psicologia.
BIBLIOGRAFIA - Adelino Cardoso, Aproximação à Archipathologia de Filipe Montalto, in Humanismo, Diáspora e Ciência. Porto. 2013.; Anna Rosa Campagnano – Judeus de Livorno . São Paulo (Brasil). 2007. Augusto d’Esaguy, Comentos à vida e obra de Elias Montalto . Editorial Inquérito, Lisboa, 1951.; J. Lúcio d’Azevedo – Judeus Portuguêses na dispersão. in Revista de História, 4º. Ano, 1915.;José Lopes Dias, Laços familiares de Amato Lusitano e Filipe Montalto (novas investigações). - Separata de Imprensa Médica, Lisboa. 1961; Enciclopedia Universal Ilustrada, Vol. 36., Madrid.1958, Grande Enciclopédia Luso-Brasileira, Vol. 17.; Lisboa.;.Homenagem ao Doutor João Rodrigues de Castelo Branco (Amato Lusitano).  Castelo Branco. 1958. www.arlindo.correia.com/161106.html.

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