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Vila Velha de Ródão : Cargaleiro pinta 50 anos do 25 de abril

Lídia Barata - 29/03/2024 - 9:00

O mestre aceitou o pedido de Luís Pereira e pintou uma tela para celebrar, na sua terra natal, meio século da revolução dos cravos.

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Mestre fez a obra a pedido do "amigo Luís Pereira"

Os cravos vermelhos são o primeiro apontamento que se destaca na tela que Manuel Cargaleiro terminou terça-feira, dia 26 de março, no seu atelier na Sobreda, em Almada. O trabalho foi feito a pedido do presidente da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão, a quem se dirige sempre como “amigo Luís Pereira” e vai ficar exposto no salão nobre dos Paços do Concelho da sua terra natal.

Deu a tela por acabada porque “o Luís Pereira tem pressa de a levar”, mas se assim não fosse, poderia ainda acrescentar algo. “Quando olho para um quadro, acho sempre que falta algo. Não sou disciplinado, nem quero criar de forma disciplinada”, revela.

 

 

O título da obra foi escolhido pelos dois e concordaram que seria “Festa da Gratidão”, porque “o 25 de abril é uma festa, tem de ser assim celebrado. E temos de ter gratidão pelos militares que acabaram com a ditadura e nos deram esta liberdade”. Uma liberdade da qual soube em Paris e que o deixou feliz, tanto quanto aqueles “que viveram os anos em que não se podia falar”. Recorda os tempos de miúdo quando, com nove ou 10 anos, lia no Diário de Notícias que o pai comprava os horrores do Hitler. “Eu escrevia coisas terríveis do que se estava a passar e enterrava os papéis, pelo medo de ser descoberto, porque o Hitler matava toda a gente e tinha medo que me viesse matar”, recordando a sua ingenuidade, mas a atitude de quem sempre teve liberdade de espírito. “Sou positivo, em tudo vejo bem, quero o bem para mim e quero o bem para os outros. Sou construtivo. Gosto que os meus amigos sejam felizes”, sublinha.

O 25 de abril mudou muita coisa, mas não a sua forma de pintar. “Não mudei o modo de pintar. Eu sei lá, eu ponho-me em frente do quadro e pinto”, assume. Recorda que numa viagem ao Brasil, em Salvador da Baia, uma menina ofereceu aos elementos da comitiva uma t-shirt que tinha a inscrição “Deixa o teu coração mandar”, para afirmar que “para pintar é preciso estar disponível para deixar o coração mandar”.

Não esconde a felicidade desta obra ficar na sua terra, na Beira Baixa. “As gentes e a Beira Baixa têm características muito especiais. A Beira Baixa tem um cheiro”, que ainda recorda, “do mato cortado, das giestas ou do rosmaninho”. Mas também “dos poejos, das fontes, que cheiravam bem, as violetas que nasciam na erva”. Memórias do lugar onde iam duas a três vezes por ano “passar um tempo com a família de lá”.

“Este ano fiz 97 anos e perguntaram-me: o que pensas hoje? E eu disse: eu não quero pintar uma rosa, eu quero inventar uma rosa. Ser sempre criativo”, sem limites, desejando apenas que “amanhã seja tão bom como hoje”.

No atelier recorda que passava horas a ouvir música, os clássicos, que o inspiravam, destacando a Flauta Mágica de Mozart. Mas se for para associar uma música a esta Festa da Gratidão “a Grândola Vila morena não está mal”.

O presidente do Município, Luís Pereira, sublinha “o privilégio de termos alguém que nasceu em Vila Velha de Ródão e conquistou o mundo através da sua arte, que foi o mestre Cargaleiro, que também esteve ligado à criação de uma obra quando foi feito o 25 de abril, deixar esta marca para a posteridade nos 50 anos desta efeméride”. De facto “foi muito gratificante ter esta resposta positiva, como é sempre, pela sua grande generosidade que, além de grande artista, é a sua simplicidade a qualidade humana que se destaca. O nome da obram, simboliza tudo que queríamos, agradecer a quem fez o 25 de abril e ao mestre Cargaleiro pela sua arte, pela sua projeção e pelo que simboliza”.

Um símbolo de longevidade criativa, que quer continuar a criar, mas sem limites. “Planos para a próxima obra? Não sei, nem sei o que vai ser hoje o jantar”, ironiza.

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