Valter Lemos foi presidente do IPCB de 1996 a 2005. Foto arquivo Reconquista
Caros conselheiros: Vitor Santos, Luís Correia, Carlos Coelho, Helena Freitas, Joaquim Morão, José Alves, Paulo Fernandes, Arlindo Silva, António Moitinho Rodrigues, António Pinto, Carlos Reis, Francisco Lucas, Henrique Gil, João Belo, João Ventura, Jorge Almeida, José Carlos Gonçalves, José Raimundo, Maria da Natividade Pires, Maria de Fátima Paixão, Edite Santos, Júlio Correia, Tomé Madeira, Alexandre Pinto Lobo, Sérgio Alves.
No dia 2/12/2019 o Conselho Geral do Instituto Politécnico de Castelo Branco aprovou uma proposta de reorganização apresentada pelo presidente do mesmo instituto.
Esta proposta extingue a Escola Superior de Educação de Castelo Branco, dispersando as pessoas e os recursos materiais que a integram pelas escolas de Saúde e de Artes Aplicadas, extingue a Escola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova/ESGIN, cria uma nova escola de “Informática e Gestão de Negócios”, que ocupará o espaço físico da ESECB e integrará as pessoas e os recursos da ESGIN e funde as atuais Escola Superior Agrária/ESA e Escola Superior de Tecnologia/EST (exceto Informática).
A extinção formal da ESACB e formal e material da ESECB, criadas há 40 anos pelo Decreto-Lei 513-T/79 de 26/12 e que tiveram existência material antes do próprio Instituto Politécnico, mostra, no procedimento, um desrespeito institucional que não seria de esperar de um órgão como o Conselho Geral.
As instituições não são meras abstrações representadas em títulos ou organogramas. São pessoas e ideias e também cognições, relações e afetos. São construções sociais e memórias coletivas. Seria de esperar que os altamente qualificados membros do Conselho Geral o reconhecessem e o tivessem em consideração no exercício das suas altas responsabilidades. Tratar as instituições e as pessoas que as integram como meras funcionalidades não é digno de um órgão tão relevante.
Não cuidou o Conselho Geral, como lhe competia, de proceder a uma audição dos envolvidos, aprovando quase em sigilo uma alteração organizacional do IPCB que pode impactar de forma decisiva na vida profissional e pessoal de centenas de pessoas que nele desenvolvem a sua atividade.
Os representantes dos docentes procederam à audição dos docentes? E os dos alunos? E os dos funcionários? E os representantes da comunidade procederam à audição da comunidade?
E que não se diga que a presidência do IPCB já tinha procedido a audições, porque, independentemente da opinião que se possa ter sobre o conteúdo dessas audições, elas não foram feitas pelo Conselho Geral, órgão a quem compete decidir e, portanto, proceder à audição prévia dos envolvidos e dos interessados.
A resolução do Conselho Geral revela, assim, um processo autocrático, porque não discutido com os interessados, e arrogante, porque imposto sem respeito pelas opiniões dos que construíram e constroem diariamente a instituição, a que acresce o facto fundamental de não serem nem claros nem transparentes os seus objetivos.
Sim, porque esta é a questão central: porquê? O que se pretende com tal decisão?
Nos documentos aprovados pelo Conselho Geral, e enviados a conhecimento dos docentes e funcionários após a resolução do dia 2/12/2019, não consta qualquer objetivo a ser atingido com a reorganização. Reorganiza-se para quê? Deve, com certeza, haver um ou mais objetivos ou a decisão foi tomada sem se saber para quê?
Das intervenções públicas do senhor presidente do IPCB, o único objetivo que é referido respeita à melhoria da eficiência financeira da instituição. A ser assim, deveria haver, como é recomendado por qualquer manual elementar de gestão, um cuidado estudo financeiro de suporte à decisão que mostrasse os benefícios, poupanças ou melhorias conseguidas com as soluções propostas. Mas não se conhece nenhum estudo, nem cuidado, nem mesmo descuidado.
Por que razão não foi divulgado, pelo menos aos órgãos internos? Será porque não existe? Será que os responsáveis conselheiros aprovaram a reorganização e criaram esta enorme entropia institucional para melhorar a eficiência financeira da instituição, sem qualquer dado concreto sobre essa eventual melhoria?
Porque, certamente, o Conselho Geral terá consciência que aprovou uma enorme balbúrdia, de acordo com os documentos que enviou!
Recapitulando:
Alguém compreende bem o que aprovaram? E não é tudo, porque ainda há cursos de design da ESART que ficam a funcionar em instalações da antiga EST, etc, etc.
Com todo o respeito, senhores conselheiros, isto soa a brincadeira de mau gosto!
E, senhores conselheiros, quanto vai custar esta balbúrdia?
Tiram-se os alunos de desporto da ESE, onde está localizado o único pavilhão desportivo do IPCB, e enviam-se para a EST onde estão os laboratórios e computadores, para enviar estes laboratórios e computadores para a ESE para lá colocar os alunos dos cursos de informática que estão na EST?
Alguém explica porque não se deixam estar onde estão e não se gasta um cêntimo com tais mudanças estapafúrdias?
Ou existem outros objetivos que justificam que se gastem muitos milhares de euros para fazer mudanças que dizem ser para diminuir custos?
Nesse caso quais são esses objetivos?
Transferem-se os alunos de serviço social e de educação da ESE para a ESART e transferem-se alunos da ESART para a ex-EST?
Extingue-se a ESGIN para, afinal, ficarem lá os mesmos alunos e docentes a funcionar sem nenhuma direção?
Ou é para justificar a criação de uma outra escola em Castelo Branco?
Senhores conselheiros:
Exige a ética e a transparência indispensáveis a todas as instituições e procedimentos públicos e até as mais elementares regras de gestão, que sejam clarificados e quantificados os objetivos, custos e relação custo-benefício desta reorganização, pois sem tais elementos o que se apresenta é uma balbúrdia que ameaça infernizar a vida de milhares de alunos, professores e funcionários e que parece ter custos financeiros, académicos e até sociais muito elevados e possivelmente incomportáveis para o IPCB.
A aparente ligeireza da vossa decisão é chocante para qualquer cidadão bem-intencionado e naturalmente para os professores, alunos e funcionários que irão sofrer os efeitos da mesma.
O IPCB tem quarenta anos de história. Alguns de vós parecem conhecê-la mal. Se esta vossa decisão vier a consumar-se nos termos em que é apresentada, espero que todos os conselheiros sejam tão expeditos e responsáveis a responder aos problemas que surjam e aos resultados gerados, como foram na tomada da decisão agora anunciada.
E tal não é um desejo. É mesmo uma exigência da ética republicana que enforma a gestão pública.
Saudações académicas.
*Responsável pelas propostas de criação da Escola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova, da Escola Superior de Artes Aplicadas e da Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias. Vogal da Comissão Instaladora da Escola Superior de Educação de Castelo Branco de 1985 a 1996