André de Lima Antunes, médico-cirurgião cardíaco no Centro Hospital Universitário de Coimbra e assistente da Faculdade de Medicina da academia mais antiga do país, insiste em manter-se ligado ao Orvalho, onde tem as suas raízes. A exigência da sua profissão não o impediu de também tirar um curso de jovem agricultor e de candidatar um projeto a fundos europeus para a sua Quinta do Vale da Carvalhinha, situada naquela freguesia do concelho de Oleiros.
No último fim-de-semana realizou a vindima dos primeiros dois hectares de vinha para a produção do tinto que tem a marca da quinta. Mas o projeto que tem em mente abrange um total de 20 hectares e a aposta passa não só pela vinha, mas também pelo olival e medronheiro. André de Lima Antunes foi também o médico coordenador da última edição da Volta a Portugal em Bicicleta e de outros prémios de ciclismo.
“Digo muitas vezes que as minhas áreas de interesse são os corações, as bicicletas e o vinho. A cirurgia cardíaca ocupa-me muito tempo”, começa por explicar, enquanto revela que “os meus avós eram agricultores. Infelizmente já só tenho as minhas avós e não queria perder o interesse pelas minhas raízes. Se não tiver nada que me motive ir ao Orvalho, no futuro deixarei de ir lá. Sempre gostei da área do vinho. Recordo-me que o vinho do meu avô materno era considerado o melhor da aldeia”.
PROJETO Estas memórias levaram André de Lima Antunes a registar a marca “Quinta do Vale da Carvalhinha, que era o nome da propriedade que os meus avós tinham. Como o espaço era pequeno, adquirimos mais terrenos e já temos cerca de 20 hectares. Neste processo fiz um curso de jovem agricultor e submetemos um projeto para fundos europeus, de que ainda não sabemos o resultado. De qualquer modo desses vinte hectares, já preparámos dois para vinha, com sistema de rega gota a gota e vedações”.
O médico adianta que “o projeto terá como ponto central a vinha, mas incluirá olival e medronheiros”. Neste momento a produção de vinho é reduzida (3500 litros) e a venda é feita diretamente, sem distribuição. “A aposta é que no futuro tenhamos cerca de oito hectares destinados a vinha”. Na produção do vinho, para já tinto, André de Lima Antunes tem contado com o apoio “do enólogo José Cláudio Osório, que tem desenvolvido a sua atividade na região do Douro. Temos um vinho extraordinário que tende a melhorar com o tempo”, diz. As castas utilizadas são touriga nacional (50%), tinta roriz e jaen, mas no futuro serão plantadas outras como o tinto cão.
A vindima juntou amigos e família numa jornada de convívio. “No próximo fim-de-semana o vinho vai ser passado para as cubas e depois estará entre três a seis meses em barricas de madeira. Pelo que para o ano este vinho ficará disponível”, adianta, enquanto refere que “o próprio engarrafamento será feito no Orvalho, através do equipamento que o enólogo disponibilizará.
ESCOLHAS Mas se a paixão pela produção de vinho faz recuar André de Lima Antunes ao passado, o facto de ter escolhido a medicina e a cirurgia cardíaca remete-o à infância, quando a sua avó foi operada ao coração. “Para uma criança como eu, ver as melhorias que ela teve, mexeu muito comigo e coloquei na minha cabeça que queria ser um médico que mexia nos corações e que punha as pessoas boas. As coisas correram bem, entrei em medicina e quando concorri para a especialidade consegui uma das três vagas”.
Foi o facto de ter concretizado esse seu sonho que lhe permitiu alcançar um outro desejo, quando conheceu o antigo ciclista Cândido Barbosa, cujo pai ia ser operado ao coração em Coimbra. “Criámos ali uma grande amizade, e passado pouco tempo, conhecendo o meu gosto pelo ciclismo, convidou-me para o Grande Prémio Nacional 2. Foi a minha primeira prova enquanto responsável da equipa médica. As coisas correram bem e fui recebendo outros convites, tendo feito diferentes competições, como a Volta a Portugal”, conclui o médico que sempre que pode também vai assistir às provas de ciclismo internacionais, como a Volta a França.