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Crónica: Debita Nostra CLXXX

Luís Costa - 24/03/2022 - 9:41

Sugestionado por sucessivos alarmismos, Vladimir Putin interrompeu os exercícios militares programados com a vizinha Bielorrússia para, numa breve expedição à Ucrânia, reestabelecer os tradicionais laços de amizade entre dois povos irmãos. 
Perante espúria resistência, acalentada por décadas de propaganda imperialista, fez um uso da força militar que, mesmo entendível num contexto mais amplo, importa recusar. Não justificando, porém, esta desenfreada corrida aos armamentos que, ao serviço dos interesses do complexo industrial-militar americano, deve ser denunciada pelos verdadeiros amantes da PAZ! A qual também, num evidente desprezo pelos mais fracos, se voltou contra o povo oprimido do Donbass, que, às mãos de milícias neonazis, tem sido sacrificado quase tanto como os seus patrícios ucranianos.
Nada que se compare à solução encontrada para os povos da Chechénia (Grozni), e da Geórgia (Abcásia e Ossétia do Sul), a merecer melhor consenso, a evitar derivas belicistas, a beneficiar de uma promissora reconciliação.
É certo que Putin renegou as suas origens e se prestou a esta despudorada manipulação. Mas, embora por princípio não nos devamos pronunciar, às vezes, sobre assuntos internos de outros países, não se pode esquecer o caráter, este sim, fascista do governo ucraniano. Nem as provocações a que o primeiro veio sendo sujeito.
Desde logo, pela OTAN a que, para disfarçar, já alguns atribuíam “morte cerebral”. Sob o pretexto de uma improvável insegurança e solicitação dos países limítrofes, supostamente receosos de um inócuo poderio militar, tal organização, dita defensiva, veio-se insinuando. É, então, de admirar que potências como Rússia, à semelhança de outras bem mais condenáveis, tente também preservar a sua “zona de influência” e faça por derrubar governos hostis?
Numa Ucrânia em que um golpe de estado tinha apeado outro governo bem menos provocador. E que, a coberto da consulta popular, integrou grupos neonazis, dos que por aí vêm pululando, como no antigo “bloco de leste”. (Um aviso para quem lhes acena com uma descompensada U.E., onde, apesar de tudo, o grupo de Visegrado tem assumido posições aceitáveis).
Não havia necessidade era deste coro de clamores (que, ausente no Iraque e na Sérvia, agora nos queria a seu lado), como se todos fossemos ameaçados nos nossos princípios e valores. Felizmente contrariado pelos abalizados votos da Síria, da Eritreia e da Coreia do Norte (que votaram contra, podendo não votar a favor).
Nem todos podem compreender como a história se desenvolve por confrontos binários que, na atualidade, apresentam a singela vantagem de um mundo dividido entre dois polos, por onde se distribuem os países, no inteiro respeito das suas fronteiras. E não é por iludirem tal facto que nos hão de confundir com as cobaias do fisiologista russo Ivan Pavlov. Temos demasiados pergaminhos para ser objeto de críticas macartianas, pretensamente políticas. 
No fundo, o costumeiro e vesgo primarismo, agora travestido de ironia.

COMENTÁRIOS

António Henriques
à muito tempo atrás
Fico perplexo com o enviesamento bacoco do pensamento do Sr. Luís Costa neste texto. A realidade histórica é tão clara que não se pode torcer a favor das ideologias que alguns defendem.
Falar de "laços de amizade entre irmãos" com bombas a celebrar essa amizade, falar de "espúria resistência" dos ucranianos contra quem lhes invade a casa e destrói o património, criticar a "corrida desenfreada aos armamentos" por parte dos americanos e esquecer a mesma corrida por parte dos russos, como se a Paz só pelos americanos fosse ferida, é mostrar delírio. Então, só o povo de Dombass é oprimido? Os três milhões de foragidos da Ucrânia nada dizem ao Sr. Luís. Ele prefere a paz apodrecida que os russos impuseram na Chechénia e noutros enclaves...
Fascista é o governo ucraniano! Que despudor num jornal que tem uma história já longa e mais equilibrada... E fico-me por aqui. Já protestei.
António Henriques