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Crónica: Debita nostra LXXVIII

Luís Costa - 11/01/2018 - 9:36

O Brexit, Donald Trump, o aumento do protecionismo e o sentimento anti-imigração são tudo consequências da crescente desigualdade, acrescenta (Thomas Piketty). Mas o economista insiste que continua otimista porque acredita que há muita gente no mundo que quer ser mais ativa na compreensão e no combate à desigualdade.” (Tradução livre de “US is setting a bad example on inequality for the world”, Quartz, 14 de dezembro de 2017). 
Aqui chegados, devo confessar que as notícias sobre a morte do chamado “modelo social europeu” me parecem ser francamente exageradas. 
Por um lado, pelo potencial de gente “mais ativa na compreensão e no combate à desigualdade” que representa a precariedade laboral de 45% dos jovens europeus, num contexto inusitado de concentração global do rendimento (DEBITA NOSTRA LXXVII). 
Por outro, pela sua especial qualificação e capacidade para o entendimento de que a crise do “modelo social” de que os arredam é hoje mais política que demográfica: o decréscimo da população ativa e o acréscimo da sua precariedade é fomentado; e a quebra da natalidade é já disso uma consequência muito mais do que uma causa. 
Com efeito, o exponencial aumento da produtividade tem vindo a poder compensar um incontornável défice demográfico e também a rarefação de recursos financeiros resultante de uma fraude e evasão fiscal sem precedentes e, em muitos casos, de uma estrutural corrupção.
Tal não significa, porém, que os jovens europeus se sintam minimamente atraídos por formas mais tradicionais de organização e solidariedade, especialmente vocacionadas para ‘insiders’. Na mesma medida em que são os mais resistentes aos assomos de nacionalismo, em que aquelas formas, mesmo que em más companhias, se prestam a embarcar, como se aí se esgrimisse a defesa de qualquer tipo de solidariedade.  
Nesta perspetiva, dificilmente lhes cabe aceitar a conhecida rejeição da União Europeia inspirada pelo estruturalismo revolucionário. Desde logo, pela sua conivente incapacidade de, sem visível alternativa, acolher a destrinça histórica de F. Braudel entre financeirização e mercado (DEBITA NOSTRA LXVI), onde aquela plêiade de europeus se move tão bem.
Depois, porque a simples divisão do mundo em dois grandes hemisférios, gizada a partir de um bipolar antagonismo de classes, descambou na sucedânea demarcação geopolítica que faz do seu arrumo europeu um avantajado mal menor, mesmo que a precisar de reparações.
Depois ainda, porque a sua fixação nesse esquemático conflito, ainda que subjacente ao atual sufoco financeiro, associada a uma linear e unívoca leitura do desenvolvimento histórico, pouco ajuda à efetiva compreensão do multifacetado mosaico da presente crise europeia. Nomeadamente, de como a Leste se vêm manifestando defensivas formas políticas, oriundas do pré-capitalismo, que o salto para um certo tipo de anti capitalismo, não soube superar. 
Mas não só. Também na compreensão de como em tal mosaico se misturam componentes, culturais, políticas e económicas que importaria especificar.                                                                       

 

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