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Leitores: Buen Vivir outras “fontes” de conhecimento

Marco Domingues - 11/04/2024 - 10:30

Buen Vivir é uma expressão originária dos Andes, da Bolívia e Equador, que expressa uma visão crítica do modelo de desenvolvimento ocidental

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Este ano o “Buen Vivir” é o tema que a Federação Internacional dos Assistentes Sociais propõe para celebração e promoção. Uma expressão de língua castelhana próxima da ideia de “bem viver” ou de “bem-estar”, e que acrescenta algo mais.  Buen Vivir é uma expressão originária dos Andes, da Bolívia e Equador, que expressa uma visão crítica do modelo de desenvolvimento ocidental, que domina o quotidiano das pessoas nos países “mais desenvolvidos”, que procura a prosperidade material e a satisfação através do consumo com base na promoção do crescimento económico. 
As razões da crítica fundamentam-se nas injustiças e impactos do modelo ocidental, que negligência outras dimensões da vida, tais como a afetiva e “espiritual”. Esta crítica é alicerçada na evidência da sexta extinção de espécies em massa, nas crescentes injustiças sociais e económicas, ou na crítica à manifesta individualização e virtualização da vida humana. Atualmente, um emprego e o rendimento derivado do mesmo, poderá ser insuficiente para a satisfação das necessidades fundamentais como a alimentação e habitação. Por outro lado, somos confrontados com a concentração de riqueza e aumento exorbitante de lucros. A título de exemplo, os quatro maiores bancos em Portugal, em 2023, tiveram 81,9% de crescimento face ao lucro de 2022, em simultâneo, um estudo recente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, refere que para o mesmo ano, 62% da população portuguesa sentiu dificuldade em pagar os custos de habitação. O “sistema” que orienta o nosso quotidiano, alimenta esta e outras injustiças.  O Buen Vivir é uma proposta de mudança, difícil, mas possível. Valoriza a recuperação de várias fontes de conhecimento, dos saberes ancestrais aos conhecimentos gerados pela natureza em complemento com os conhecimentos científicos. 
A vida do ancião David Attenborough, atualmente com 97 anos, jornalista na BBC que na década de 70, 80 e 90, na RTP, nos apresentava documentários sobre a vida selvagem, é um dos bons exemplos. A sabedoria que revela resulta da compreensão dos ecossistemas da natureza, aludindo que crescer continuamente num mundo finito, é retirar sempre de algum lado, independentemente do “como” se retira. Assim, para David Attenborough é desejável amadurecer e não crescer. Amadurecer para um Buen Vivir, é agir exercendo a cidadania participativa e pertencendo aos movimentos e associações nacionais e locais que defendem mudanças para um desenvolvimento mais justo e sustentável. Podemos consentir e manter o atual modelo, ou em alternativa, acreditar, resistir, educar e mobilizar para a mudança, promovendo valores que nos unem enquanto humanidade, no respeito pela nossa “mãe comum”, a natureza que nos acolhe, alimenta e proporciona as condições de vida à nossa extraordinária existência.


domingues.marco@gmail.com

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